Do Correio do Brasil
O movimento “Ocupa Wall Street” venceu a queda de braço com o
prefeito de Nova York, sua polícia e uma poderosa empresa do setor
imobiliário ao defender a ocupação da chamada Praça Liberdade com uma
massiva demonstração de solidariedade que obrigou a prefeitura a
suspender a ordem de expulsão do local, minutos antes da polícia
intervir. Cerca de duas mil pessoas foram para a praça durante a
madrugada para evitar a expulsão.
Ao longo da noite de quinta-feira, centenas de pessoas chegaram à
praça. Ao amanhecer, já eram cerca de duas mil que lotaram a área para
resistir à ordem do prefeito Michael Bloomberg de levantar o acampamento
às 7 horas para realizar “trabalhos de limpeza e manutenção”, com a
advertência de que, caso houvesse resistência, a polícia interveria.
Ocupa Wall Street e seus simpatizantes consideraram que o tema da
limpeza era só um pretexto para expulsá-los da praça ocupada desde o dia
17 de setembro.
Na manhã de sexta, a polícia começou a multiplicar sua presença na
área, instalando barreiras ao redor da periferia do pequeno parque,
enquanto os manifestantes, com escovas e esfregões, afirmavam que não só
não se moveriam, como, após resistir, marchariam a Wall Street para
fazer uma limpeza na desordem do setor financeiro.
Empresário de hip-hop oferece-se para pagar a limpeza
Durante toda a sexta-feira, o sistema de comunicação pública com a
prefeitura foi saturado por milhares de chamadas de simpatizantes de
todo o país denunciando a ação de Bloomberg. Além disso, segundo os
ativistas, uma petição com mais de cem mil assinaturas foi entregue em
seu escritório. Dirigentes sociais e alguns líderes políticos
expressaram sua opinião e propuseram promover uma negociação entre os
manifestantes e a empresa imobiliária que é dona da praça, Brookfield
Properties (onde a noiva do prefeito é integrante da direção), para
chegar a um acordo para manter a praça sob ocupação. O empresário de hip
hop, Russell Simmons indicou que estava dispostos a pagar a limpeza
caso o prefeito desistisse da ordem.
O Crescimento do apoio à “Ocupa Wall Street”
Ao aproximar-se a hora da desocupação, sindicalistas dos setores de
transporte, automotriz, serviços, professores, entre outras categorias,
apareceram para se integrarem à defesa da praça. A central operária
AFL-CIO emitiu à noite um chamado para seus filiados defenderem Ocupa
Wall Street. Também chegaram estudantes, líderes sociais e políticos e
mesmo alguns conselheiros do governo municipal, religiosos e veteranos
de guerra, entre outros, que expressaram sua solidariedade ou se
integraram ao protesto. Havia tensão no ar, mas também um sentimento
coletivo e enérgico de força.
Cerca de 40 minutos antes da hora marcada pela expulsão, a prefeitura
anunciou que, por enquanto, estava suspensa a ordem de início da
limpeza. Uma onda de regojizo estourou na praça com abraços, gritos de
alegria e um coro que levantou as consignas de somos os 99%, todo o dia,
toda a semana, ocupemos Wall Street. Também cantaram a música We’re not
going to take it (não vamos permitir).
O prefeito informou que a empresa retirou, na última hora, sua
solicitação de assistência da força pública para realizar a limpeza, e
que políticos haviam pressionado a empresa. Muita gente, porém,
considerou que isso é só parte da verdade e que Bloomberg e seus
assessores se deram conta de que tinham cometido um grave erro, como
comentou um dos defensores da praça. A prefeitura informou que a empresa
também disse que confiava que podia chegar a um acordo com os ocupantes
para manter a praça, ressaltando porém que se tratou apenas de uma
suspensão temporária da ordem. Mas para os manifestantes foi mais uma
vitória.
Bill Buster, um porta-voz designado pelo Ocupa Wall Street, declarou ao jornal mexicano La Jornada
que o que ocorreu na manhã de sexta-feira foi outra mostra incrível do
apoio do povo estadunidense e dos nova-iorquinos. Bloomberg e a polícia
não intercederam, no final, por causa da massa física das pessoas aqui,
do apoio massivo da população, de celebridades, de políticos e de todos
os que estão dispostos a vir aqui para enviar uma mensagem, mesmo que
isso implique serem golpeados e presos pela polícia.
Ele explicou: “somos um movimento popular, estamos trabalhando a
favor de todos, estamos mudando o curso da política para todos, e todos
são bem vindos. Aqui escutamos uns aos outros, ninguém busca tirar
vantagem de nada nem de ninguém. E esperamos ver uma mudança no
governo…Se não podemos conseguir isso de maneira pacífica, o governo
também não tem opção…ou mudam ou serão trocados. Não é aceitável a
manutenção das coisas como estão, com as empresas e os ricos controlando
tudo, inclusive comprando os políticos. É obsceno, e não há lugar para
isso na política estadunidense”.
O porta-voz, esgotado após uma longa noite que ameaçava ser a última
para o acampamento, acrescentou que a mobilização é uma chamada para a
população despertar. E as pessoas estão se levantando por todos os
Estados Unidos.
Pouco depois, entre 200 e 400 pessoas iniciaram a marcha anunciada
até Wall Street para lavar esse desastre. Foram impedidos, mais uma vez,
ao chegar à entrada da famosa rua. Durante duas horas, houve breves e
mínimos enfrentamentos entre manifestantes e polícia, como pelo menos
dez detidos, em diferentes partes do distrito financeiro, no que se
converteu num jogo de “agarra-me se puderes”.
Enquanto isso, relatou-se que o acampamento de Ocupa Denver foi
dissolvido pela polícia na madrugada de sexta. Ocupa Wall Street
informou que houve também ações repressoras contra esse movimento de
protesto, com prisões, em sete cidades, incluindo Seattle, San Diego,
Kansas City e em vários lugares do Texas. O movimento convocou ações em
nível internacional, neste sábado, 15 de outubro. Nos EUA, os bancos
serão o principal alvo. Nós ocuparemos em todas as partes, advertiram os
manifestantes.
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