Do Pitanga Porã
"Um dia, em 1977, propus-me fazer um espetáculo sobre o genocídio dos índios. Minha preocupação era abordar um tema tão difícil sem cair na mesmice de experiências passadas, quando dançava em óperas e mesmo nos diversos balés que enfocavam esse tema.
Não queria índios vestidos como certos cantores e bailarinos trajando malhas cor de ferrugem enrugadas pelo corpo, imitando a pele avermelhada dos indígenas.
Kuarup foi dançado mundo afora e é um dos balés mais premiados do Stagium, sucesso de crítica e de público."
STAGIUM - AS PAIXÕES DA DANÇA
Décio Otero
Editora Hucitec - SP,1999 - pag 139-140
KUARUP - texto de Décio Otero
KUARUP, OU A QUESTÃO DO ÍNDIO
"Um dia, em 1977, propus-me fazer um espetáculo sobre o genocídio dos índios. Minha preocupação era abordar um tema tão difícil sem cair na mesmice de experiências passadas, quando dançava em óperas e mesmo nos diversos balés que enfocavam esse tema.
Não queria índios vestidos como certos cantores e bailarinos trajando malhas cor de ferrugem enrugadas pelo corpo, imitando a pele avermelhada dos indígenas.
Tinha verdadeiro horror aos estereótipos dos cartões postais turísticos sobre nossos índios.
Guardado em minha discoteca, havia um long- play antigo de músicas dos índios do Alto Xingu, coletadas pelos irmãos Villas-Boas, na década de 50.
Eram lindíssimas!
Fui para o estúdio numa noite que Márika ai sair para ensaiar com Ademar Guerra, no teatro, a peça Mahagony
Fiquei paradão no silêncio, escutando a música inúmeras vezes.
Imagens começaram a surgir, fazendo meu racional perceber que, na
obra, não deveria enfocar somente a sociedade indígena, mas todas as
outras sociedades.
De uma forma ou de outra, todos estamos sendo dizimados pelas
guerras ideológicas, as guerras religiosas, a poluição dos grandes
centros e as guerras bacteriológicas. Não seriam índios. seriam
trabalhadores dos centros urbanos lutando pela sobrevivência.
Seria impossível enfocar um assunto que nos toca tão de perto por
meio das formas codificadas dos balés estrangeiros, com piruetas e glissades .
Pesquisei o gestual dos índios, suas crenças e cerimônias
religiosas e suas danças, com múltiplas conotações sociológicas,
mitológicas, religiosas.
Tarde da noite, quando voltaram, Ademar e Márika me contaram que
estavam temerosos de como eu me sairia da empreitada. rapidamente
expliquei-lhes meu projeto e ficaram surpresos e maravilhados.
No gestual de Kuarup, não foi utilizado nenhum passo acadêmico de escolas clássicas ou modernas.
Era algo novo, que nascia de dentro para fora, numa linguagem
simples e universal, ao mesmo tempo tão fácil de ser executada que
qualquer cidadão seria capaz de dançá-la.
Durante todo o balé, os bailarinos usavam macacões de operários
verde-amarelo e somente no final transformavam-se em índios, para
celebrar a cerimônia da morte.
STAGIUM - AS PAIXÕES DA DANÇA
Décio Otero
Editora Hucitec - SP,1999 - pag 139-140
Kuarup foi a primeira coreografia que dancei (eu Ismenia rs) no Stagium,
tive o privilégio de participar da montagem. Lembro que na estréia, no
teatro Municipal de SP, ao final todos mortos, ficávamos deitados no
palco com cortina aberta até a última pessoa da plateia retirar-se.
Teatro Municipal lotado todos os dias!!!!
Numa das cidades da Hungria, agora não me rocordo qual, os aplausos eram
lentos, ritmados e não acabavam nunca, com o público em pé !!!!! Kuarup
- obra de arte !!!!
Fabinho, Áurea e eu dançamos durante muito tempo a cena das crianças,
uma delícia, mas haja fôlego rs !! O ritual da troca de roupa... lembro
das primeiras vezes que apresentamos dentro das escolas, a dúvida era
como receberiam...era um momento forte e de muita concentração, mas
todos, inclusive adolescentes que poderiam rir ou brincar, sempre
assistiram com o maior respeito e atenção.
tem como entrar em contato com Ismenia? Queria mais informações sobre o Ballet Stagium
ResponderExcluirOi...
ExcluirO endereço eletrônico dela é ismeniarogich@yahoo.com.br
Abraços