Ainda o caso Veja (desculpem os leitores mas essa sujeira precisa ser muito bem conhecida para ser limpa). Ricardo Noblat, jornalista da Globo, que tem pouca simpatia as questões da esquerda e do governo atual, diante do desastre da revista, publicou um artigo do Zé Dirceu em seu blog. Veja abaixo:
Política
Silêncio ensurdecedor de Veja
A revista Veja publicou, nesta semana, matéria de capa na qual se
utilizou de recursos ilegais para obter informações: primeiro, houve
tentativa de invasão de domicílio e crime de falsidade ideológica;
depois, violação de privacidade.
Abalos à própria credibilidade e
verdadeiros atentados à atividade jornalística, os atos de Veja
constituem caso de polícia e grande preocupação quanto ao respeito aos
direitos fundamentais do Estado Democrático de Direito.
Com
métodos absurdos e distantes do que é jornalismo, Veja incumbiu um de
seus “repórteres” a tentar entrar no meu quarto de hotel, fingindo ser o
dele e pedindo a uma camareira para abri-lo. Ela se recusou, informou a
direção e o hotel registrou a tentativa de violação de domicílio em
boletim de ocorrência.
O mesmo “repórter” tentou, posteriormente,
se passar por um assessor da Prefeitura de Varginha e disse que
precisava deixar em meu quarto “documentos relevantes”. Foi descoberto
novamente.
Mas a revista decidiu publicar a farsa e —pasmem!—
veiculou imagens dos corredores do hotel, de uma câmera oculta plantada
no andar em que me hospedei.
A espionagem de Veja ultrapassa todos
os limites e constitui um atentado à democracia —lembra os tempos de
ditadura. Viola o princípio constitucional da intimidade, não apenas
minha e das pessoas com quem me encontrei —deputados, senadores,
governadores e ministros de Estado—, mas de todos os demais hóspedes.
Infringe
ainda nosso Código Penal. Colide com princípios básicos da democracia,
como o direito de qualquer cidadão de se reunir. Quando esses direitos
fundamentais são ameaçados dessa forma e prevalece o silêncio, toda a
sociedade está em risco.
Confrontada com os fatos, Veja se
comportou como se tais práticas fossem legais e desejáveis do ponto de
vista jornalístico. Mas não são, como ressaltaram vários sites e blogs
—Terra, UOL, Brasil 247, Vermelho e Sul21—, denunciando o caráter
criminoso dos atos praticados pela revista, além das inúmeras
manifestações de apoio que recebi.
As emissoras Record e SBT noticiaram o episódio. Procurada para opinar, Veja se recusou a expor suas razões.
Há
pouco mais de um mês, o mundo se surpreendia com a revelação de que o
tabloide britânico News of The World se utilizou diversas vezes de
expedientes ilegais para obter informações sobre personalidades e altas
autoridades políticas. Lá, o News of The World fechou as portas e vários
de seus dirigentes estão sob investigação.
Aqui, o caso está nas
mãos da Polícia Federal e da Polícia Civil do Distrito Federal e não
podemos deixá-lo cair no esquecimento, é preciso haver punições.
As
práticas tão distantes de um verdadeiro jornalismo investigativo
deveriam incomodar a todos os que trabalham por uma atividade
jornalística séria e comprometida com a busca da isenção. Com seu
silêncio ensurdecedor, Veja mantém as vestes de polícia política que
usou para me espionar na matéria-farsa que produziu.
Definitivamente,
a ação da Veja revela uma perspectiva preocupante. Como bem pontuou
Alberto Dines, em artigo no Observatório da Imprensa sobre o caso, “a matéria recoloca o jornalismo político brasileiro na Era da Pedra Lascada”.
Será
essa a ponta do iceberg de um jornalismo de delitos, tal qual o News of
The World? Se queremos evitar esse enredo policial, com marcas dos
períodos de exceção, é preciso cobrar a quebra desse silêncio
ensurdecedor.
José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
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