Da Rede Brasil Atual
Por: Flavio Aguiar
Por: Flavio Aguiar
Na viagem aos Estados Unidos que fiz em agosto, ouvi de meus amigos
dois tipos de observação quanto a Barack Obama. Havia os que diziam
estarem decepcionados com o presidente, argumentando que ele fez
concessões demais aos republicanos, aos Tea Party, recuou exageradamente
em relação à pauta que lançara. E havia os que alegavam que isso
poderia ser verdade, mas que o presidente não tivera tempo de por em
prática o que propusera, diante do acúmulo de crises – a econômica e a
política – que tivera de enfrentar. Todos diziam que iriam votar de novo
em Obama em 2012. Os primeiros porque, diziam, qualquer outra
alternativa, inclusive dentro do Partido Democrata, seria pior. Os
segundos porque continuavam confiantes em que, tendo tempo e
oportunidade, Obama poria em prática suas promessas liberalizantes e
modernizantes da política norte-americana. Todos temiam, no entanto, que
o recuo de Obama desmobilizasse o voto democrata, dizendo ser este o
verdadeiro desafio que o presidente vai enfrentar.
Ambas as avaliações têm sua dose de razão. Obcecado com certeza pelo
trauma dos presidentes norte-americanos, que é o de não se reeleger para
o segundo mandato, Obama quer visivelmente se apresentar como o “homem
bom”, negociador, se contrapondo à intransigência republicana. E é
verdade que na disputa enlouquecida em torno da elevação do teto do
déficit público norte-americano ele se saiu melhor do que os seus
adversários e até do que o seu partido, em termos de imagem junto à
opinião pública, o que pode lhe render votos. E também é verdade que a
intransigência dos republicanos – Tea Party ou não – é total e
definitiva. Eles querem o sangue e a pele do presidente.
Um exemplo poderá ser auferido na quinta-feira, quando o presidente
fará um pronunciamento sobre economia e geração de empregos perante o
Congresso. Não se sabe ainda com precisão (redijo este post na terça
feira à tarde, manhã em Brasília) que propostas o presidente fará. Mas
se sabe com certeza que, sejam quais forem, não terão complacência,
muito menos apoio, por parte dos republicanos. A estes interessa que os
EUA se afundem – e junto com eles o mundo, que pode se danar – porque na
sua avaliação isso fará com que Obama perca a próxima eleição. Nesse
sentido, o comportamento dessa oposição lembra o da brasileira –
parlamentar e na mídia – ao término do primeiro mandato do então
presidente Lula: bloquear para reinar, impedir o governo de governar,
desacreditar o presidente pelo contundente desprezo sempre manifesto,
para ganhar a eleição. No Brasil não deu certo, vamos ver nos EUA.
Quanto à disposição de negar tudo o que Obama faça, quem afirma isso não
sou apenas eu, é também e primeiro o comentarista Paul Krugman, no NY
Times.
O desprezo manifesto se mostra de todas as maneiras. O “speaker”
(presidente) da Câmera de Deputados seguidamente se recusa a atender ou
até a responder telefonemas do “outro” presidente. Mais recentemente,
num gesto inédito na história norte-americana, recusou autorização ao
presidente para falar ao Congresso no momento em que este pediu, que
seria no fim da sessão do dia 07 de setembro, nos Estados Unidos
festejado como o Dia do Trabalho, ao invés do 1o. de maio. Ele alegou
motivos de ordem técnica, quanto à segurança, mas a verdadeira razão era
que nessa noite haverá um debate televisionado entre os pré-candidatos
republicanos, e ele visivelmente não queria que o presidente falasse
antes deles, que estariam despreparados para responder.
Mas os problemas de Obama não param aí. O presidente não tem por
detrás de si o establishment do Partido Democrata. A razão mais séria
pela qual provavelmente não haverá disputa pela candidatura é a de que
ele é o primeiro presidente negro da história norte-americana, e pegaria
muito mal para qualquer pré-candidato que o confrontasse nessa
circunstância. Mas certamente não faltará, em algum canto escuro, quem
torça para que ele perca e assim saia logo de cena do país e do Partido.
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