Da Rede Brasil Atual
São Paulo – O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), Márcio Pochmann, acredita que o Brasil não voltará a ter "voos
de galinha" na economia, como ficaram conhecidos os períodos curtos e de
baixo crescimento na década de 1990 e no início do novo século.
"As três últimas eleições consagram a visão que não permite que o
Brasil tenha ‘voos de galinha’, que conviva com crescimento econômico
baixo, desemprego e pobreza", afirmou Pochmann durante seminário
promovido pela Agência Carta Maior na segunda-feira (12) em São Paulo. O
presidente do Ipea pensa que as vitórias eleitorais de Luiz Inácio Lula
da Silva e Dilma Rousseff consolidaram a formação de uma maioria
política que aposta na via do desenvolvimento como instrumento de
promoção do bem-estar social e de redução da pobreza.
Ele admite, porém, que se trata de uma maioria heterogênea que coloca
em disputa dois caminhos diferentes para o crescimento econômico
robusto. De um lado, a crença na consolidação de um país exportador de
produtos primários, o que garante bons resultados para o Produto Interno
Bruto (PIB), mas resulta na criação de empregos de baixa qualidade e em
dificuldades para a distribuição de renda. De outro, a leitura de que o
Brasil deve se transformar em um produtor de materiais de alto valor
agregado, com vagas de trabalho de qualidade e promoção da equidade
social.
Pochmann argumenta que a saída encontrada para a primeira etapa da
crise financeira mundial iniciada em 2008 foi a demonstração de que há a
negação da volta aos tempos de "voo de galinha". Na ocasião, o
Ministério da Fazenda optou por uma estratégia anticíclica, ou seja, de
caminhar na contramão da tendência mundial desenhada para a economia.
A aposta na força do mercado interno, por meio de estímulos de
crédito ao consumo e do fortalecimento dos programas de transferência de
renda, e a colocação dos bancos públicos a serviço do financiamento da
economia doméstica foram vistos como fatores fundamentais para que o
país não sofresse efeitos mais drásticos da desaceleração mundial.
"Antes, saídas para crises eram basicamente cortes de gastos, políticas
recessivas, de redução de investimentos e de programas de promoção
social", pontua.
O presidente do Ipea vê na recente decisão do Comitê de Política
Monetária do Banco Central de cortar em meio ponto a taxa básica de
juros da economia uma reafirmação deste caráter pró-crescimento. No
último dia 31, o Copom reduziu a Selic para 12% ao ano em um momento em
que as projeções para a expansão do Produto Interno Bruto neste ano
mostravam uma tendência de queda.
"Sou otimista quanto à possibilidade de o Brasil adotar políticas
pós-neoliberais", afirma Pochmann. Para ele, a crise se transforma em
uma oportunidade para aumentar a integração regional e para promover uma
reforma tributária que taxe os mais ricos e isente os mais pobres do
pagamento de impostos.
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