Da Rede Brasil Atual
Por: João Peres e Virginia Toledo, da Rede Brasil Atual
Publicado em 13/09/2011, 18:38
Em 1989, dom Paulo viu a Arquidiocese ser fragmentada e
dividida em quatro dioceses autônomas, o que diminuiu o papel da
influência que o arcebispo exercia sobre a cidade de São Paulo (Foto: ©
Douglas Mansur)
São Paulo - A ânsia de Dom Paulo Evaristo Arns pela luta dos direitos
humanos não foi jamais abalada. Ele não se deixou esmorecer nem mesmo
quando o Brasil já estava entrando nos eixos da democracia. A ação das
pastorais e da Arquidiocese continuavam no trabalho nas ruas da capital,
principalmente nas periferias.
Como arcebispo, dom Paulo via que a violação dos direitos humanos se
multiplicava de forma progressiva. Assim, sempre considerou que deveria
procurar por juristas para lhe apoiar nas intervenções feitas por ele,
que cada vez mais frequentes, tornavam-se também mais delicadas. Ai
então entra o papel de um importante jurista brasileiro que esteve ao
lado de dom Paulo por diversos momentos da vida de luta do arcebispo:
Dalmo de Abreu Dallari.
Já nos tempos em que o Brasil caminhava – a passos curtos – para uma sociedade democrática, a Comissão de Justiça e Paz, que havia criado em 1967, continuava a trabalhar incessantemente.
O ano era 1983 e alguns dias antes do Natal daquele ano, um menino de rua chamado Joílson de Jesus protagonizou um caso cruel da violência. Uma corrente de ouro, roubada pelo menino em plena Praça da Sé, motivou o espancamento e o pisoteio que o levou à morte, também em plena Praça da Sé. O agressor era um procurador do estado. Não obstante, a injustiça foi além. No intuito de alertar a sociedade acerca da crueldade do ocorrido, dom Paulo e a Pastoral do Menor realizaram uma celebração em memória do menino Joílson.
Já nos tempos em que o Brasil caminhava – a passos curtos – para uma sociedade democrática, a Comissão de Justiça e Paz, que havia criado em 1967, continuava a trabalhar incessantemente.
O ano era 1983 e alguns dias antes do Natal daquele ano, um menino de rua chamado Joílson de Jesus protagonizou um caso cruel da violência. Uma corrente de ouro, roubada pelo menino em plena Praça da Sé, motivou o espancamento e o pisoteio que o levou à morte, também em plena Praça da Sé. O agressor era um procurador do estado. Não obstante, a injustiça foi além. No intuito de alertar a sociedade acerca da crueldade do ocorrido, dom Paulo e a Pastoral do Menor realizaram uma celebração em memória do menino Joílson.
Entretanto, uma investida sensacionalista, contrária à manifestação
da Pastoral, tentava fazer com que a celebração fosse perturbada e alvo
de protestos. O radialista Afanásio Jazadji pedia que as pessoas fossem à
catedral tumultuar. Porém, sem o sucesso dos protestos, as pessoas
presentes aplaudiram de pé a postura de dom Paulo e o trabalho da
Comissão Justiça e Paz. Segundo o próprio dom Paulo, a decisão de
alarmar a violência contra o menino Joílson, fez com que o povo
entendesse o verdadeiro intuito da comissão.
Naquela época, padre Júlio Lancelotti era diácono da Arquidiocese e o
papel designado aos diáconos era proteger o bispo da paróquia. "Eu
estava cuidando de dom Paulo. Andávamos praticamente colados nele porque
a catedral estava muito cheia. Foi um momento muito tenso, mas todos
receberam muito bem a decisão do arcebispo de rezar aquela celebração",
conta padre Júlio.
Já no final de sua trajetória como arcebispo de São Paulo, em 1989, dom Paulo viu a Arquidiocese ser fragmentada e dividida em quatro dioceses autônomas, o que diminuiu o papel da influência que o arcebispo exercia sobre todos os cantos e periferias da cidade. Segundo pessoas próximas ao cardeal, ele não recebeu a notícia com agrado, pois descentralizar minimizava a força dos trabalhos que eram realizados em diversas regiões da cidade.
Já no final de sua trajetória como arcebispo de São Paulo, em 1989, dom Paulo viu a Arquidiocese ser fragmentada e dividida em quatro dioceses autônomas, o que diminuiu o papel da influência que o arcebispo exercia sobre todos os cantos e periferias da cidade. Segundo pessoas próximas ao cardeal, ele não recebeu a notícia com agrado, pois descentralizar minimizava a força dos trabalhos que eram realizados em diversas regiões da cidade.
Pelos direitos humanos, de todos
Um outro episódio marcou o país e identificou dom Paulo como aquele
que não elege cirscuntâncias e condições para defender o direito humano.
Em 1989, o empresário Abílio Diniz foi sequestrado em São Paulo e o
intermediador entre os sequestradores e a polícia foi o próprio
arcebispo. Dom Paulo afirmou que faria o mesmo por qualquer cidadão caso
tivesse sido solicitado, como fez a família do empresário.
Na ocasião, dom Paulo não apenas negociou a libertação de Diniz, como garantiu que os envolvidos não fossem torturados no caminho até a prisão. E a voz do arcebispo não se calou até aí. Dom Paulo exigiu que fosse tirado do carro que transportaria os sequestradores a palavra "Lula", que à época era candidato à Presidência disputando com Fernando Collor de Mello.
Na ocasião, dom Paulo não apenas negociou a libertação de Diniz, como garantiu que os envolvidos não fossem torturados no caminho até a prisão. E a voz do arcebispo não se calou até aí. Dom Paulo exigiu que fosse tirado do carro que transportaria os sequestradores a palavra "Lula", que à época era candidato à Presidência disputando com Fernando Collor de Mello.
Reconhecimento
Apesar de ter recebido as mais importantes condecorações pelo
reconhecimento de seu trabalho na luta pela paz, um vazio permanece na
história de dom Paulo e do Brasil. Segundo o Padre Júlio Lancelotti, por
muitas vezes, houve indicações para que dom Paulo recebesse a distinção
internacional mais importante no esforço pela paz mundial, o Prêmio
Nobel da Paz, porém, por intermédio do governo militar, o cardeal nunca o
recebeu.
"Eu diria que a pessoa de dom Paulo Evaristo Arns é um presente de
Deus para a igreja, para o Brasil e para a paz no mundo por tudo que ele
representou para os direitos humanos. Ele fica para a história do
Brasil como uma das maiores personalidades que ajudaram o país a ser o
que é hoje", enfatiza dom Pedro Stringhini, bispo de Franca e amigo
pessoal do arcebispo emérito de São Paulo.
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