Autor:
Luis Nassif
Muito se tem falado sobre as virtudes das redes sociais. De fato, elas ajudam a criar um novo tipo de indivíduo-cidadão.
Antes da Internet – e das redes sociais – o cidadão médio limitava-se
a participar da vida pública apenas nas eleições. No intervalo delas,
conformava-se em ler jornais (os mais bem informados) e no máximo
participar de discussões no trabalho ou no bar.
A Internet conferiu um protagonismo até então inexistente. O cidadão
pode apoiar ou rejeitar mensagens (com o botão Curtir), difundir
mensagens que goste e até colocar suas próprias opiniões em grupos de
discussão ou de relacionamento.
Nas empresas, as redes sociais possibilitaram enormes ganhos de
sinergia, relacionamento, aparecimento de novas ideias, aperfeiçoamento
de processos.
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Mas nos grandes ringues públicos – Facebook, Twitter, Orkut – o jogo é outro.
Nos anos 90, quando surgiu o fenômeno das salas de chat, muitas
pessoas entravam anonimamente nas salas e faziam, ali, o que não
ousariam fazer em público ou onde pudessem ser identificados.
Brincadeiras, cantadas, agressões, tudo era permitido.
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Quando as redes sociais ganharam ímpeto, os personagens, antes
anônimos, passaram a ser identificados. Pensava-se, então, que a
etiqueta na rede seguisse aquela vigente nas relações presenciais.
Coisas simples, do tipo: não ofenda uma pessoa de cujas ideias discorde;
não agrida verbalmente ninguém; comporte-se com educação.
Especialmente em períodos eleitorais, nas redes sociais impera
virulência em níveis inacreditáveis, independentemente da classe social,
formação escolar ou nível intelectual. É um vale-tudo fantástico.
Mais que isso. Nas modernas sociedades democráticas, uma das
características do indivíduo é o individualismo, o isolamento. Os
clássicos do estudo das democracias já captavam, ainda no século 19,
essas características no chamado homem médio.
Primeiro, uma insegurança em relação à posição social ou financeira,
fruto da mobilidade social que caracteriza regimes democráticos – e que
tendem a se agudizar em períodos de grandes transformações, como os que
passamos.
A insegurança provoca nele um conservadorismo terrível, que o faz
reagir contra ameaças de perda de status ou da condição financeira –
presentes na ascensão de novas classes sociais. Foi assim nos EUA do
século 19 e é assim no Brasil do século 21.
Uma das maneiras de romper o isolamento, e se sentir mais
fortalecido, é seguir o chamado “efeito-manada”, o sentimento que julga
ser preponderante na maioria. Em grau menor, até algum tempo atrás essa
homogeneização do pensamento era proporcionado pela chamada grande
mídia, ao vocalizar valores que, pelo efeito-manada, acabavam
preponderantes no universo da chamada opinião pública.
***
Com as redes sociais, esse mundo homogêneo fragmentou-se. Agora, cada
indivíduo pertence a um grupo – como torcidas organizadas– e os mais
rústicos e despreparados apegam-se ao grupo como se fosse seu universo
único, agredindo todos de quem possam divergir.
Espera-se que seja uma fase passageira, fruto da infância das redes sociais. Mas que assusta, assusta.
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