Do Estadão
Comissão da Verdade analisa inquérito sobre morte de JK
OAB crê que ex-presidente não tenha sido vítima de acidente automobilístico, mas sim assassinado
Marcelo Portela
BELO HORIZONTE - A Comissão Nacional da Verdade começou a analisar o
inquérito e o processo sobre a morte do ex-presidente Juscelino
Kubitschek, ocorrida em agosto de 1976. O documento foi encaminhado ao
grupo encarregado de investigar crimes ocorridos durante o regime
militar pela Comissão da Verdade da seção mineira da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB-MG), que pede uma nova apuração do caso.
Segundo a advogada Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da
Verdade, a documentação sobre a morte do ex-presidente já foi analisada
por um assessor do grupo e pelo ex-procurador-geral da República Cláudio
Fonteles, que também integra a comissão, mas ainda não há uma
"interpretação conclusiva" a respeito do caso. "Já fizemos uma primeira
leitura, mas é uma questão tão séria que vai ter que ser submetida a um
conjunto de comissários, não apenas a um", observou Rosa.
Como o Estado revelou em maio, a OAB-MG contesta a versão de que JK
foi vítima de um acidente automobilístico e aponta diversos "furos" por
parte dos responsáveis pelas investigações oficiais nas 2.629 páginas
divididas em quatro volumes que compõem o processo de apuração da morte.
Para os integrantes da Comissão da Verdade da entidade mineira, o
ex-presidente foi assassinado, opinião partilhada pelo secretário
particular e amigo de JK, Serafim Jardim.
Nesta terça-feira, 23, Rosa Cardoso, além de Maria Rita Kehl e José
Carlos Dias, também integrantes da comissão, se reúnem com
representantes da OAB-MG em Belo Horizonte. Nesta segunda, o trio
participou de audiência na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
para ouvir relatos de três vítimas da ditadura militar: o professor
Apolo Heringer, ex-dirigente do Comando de Libertação Nacional (Colina),
preso, torturado e exilado; a socióloga Magda Neves, expulsa do
mestrado em Ciência Política da UFMG pelo regime; e Mariluce Moura,
viúva de Gildo Macedo Lacerda, morto sob tortura em 1973.
Araguaia. Ao chegar para a audiência, Maria Rita
Kehl, responsável da comissão pela investigação de violações de direitos
de indígenas e camponeses, revelou que o grupo encontra dificuldades de
investigar um dos mais notórios episódios do regime militar, a
Guerrilha do Araguaia, ocorrida no sul do Pará do fim da década de 1960
até meados da década de 1970.
Recém-chegada da região, onde acompanhou as atividades dos Grupo de
Trabalho do Araguaia (GTA) e do Grupo de Trabalho do Tocantins (GTT),
Maria Rita informou que familiares de guerrilheiros que desapareceram na
região têm se recusado a fornecer material para comparação genética com
restos mortais encontrados na área. Até o momento, só foram
identificadas as ossadas dos guerrilheiros Bergson Gurjão Farias e Maria
Lúcia Petit. "Tem alguns casos que já têm ossos para comparação de DNA.
(Mas) nem todas as famílias querem oferecer o DNA, para não
sofrer. Fica mais difícil ainda, porque tem uma ossada, tem a
possibilidade (de identificação) e a família não quer fazer o exame", disse, sem entrar em detalhes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário