Coronel é acusado de crimes contra o corretor de valores
Edgar de Aquino Duarte, que desapareceu depois de ficar dois anos preso
ilegalmente
Brasília – A Justiça Federal em São Paulo aceitou outra denúncia
contra o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o
Departamento de Operações de Defesa Interna-Centro de Operações de
Defesa Interna (DOI-Codi) de São Paulo no começo dos anos 1970, conforme
informações obtidas com exclusividade pela TV Brasil.
A denúncia é do Ministério Público
Federal (MPF) em São Paulo. Na ação do MPF, o coronel reformado é
acusado, juntamente com os delegados Alcides Singillo e Carlos Alberto
Augusto, ambos da Polícia Civil, de sequestrar e torturar o corretor de
valores Edgar de Aquino Duarte, em junho de 1971.
Os procuradores disseram na ação que
Duarte ficou preso, ilegalmente, nas dependências do DOI-Codi e depois
no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo até
meados de 1973. “O paradeiro da vítima, após 1973, somente é conhecido
pelos denunciados”.
Edgar de Aquino Duarte, nascido em
1941, no interior de Pernambuco, foi fuzileiro naval na juventude. Em
1964, logo após o golpe militar, foi expulso das Forças Armadas, acusado
de oposição ao regime. Foi viver no exterior, e voltou ao Brasil em
1968, quando passou a morar em São Paulo, com o falso nome de Ivan
Marques Lemos. No final da década de 1970, dividiu apartamento com um
antigo colega da Marinha, José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo,
detido pela polícia em 1971.
De acordo com o MPF, vários
depoimentos mostram que, na época, Duarte não tinha nenhum envolvimento
com qualquer tipo de resistência ao regime militar. Primeiro montou uma
imobiliária e depois passou a trabalhar como corretor da Bolsa de
Valores, atividade que exerceu até ser sequestrado. Os procuradores
também encontraram documentos do 2º Exército que atestam que Duarte não
pertencia a nenhuma organização política e que de fato atuava como
corretor de valores.
“Os registros demonstram que Duarte
foi citado pelo menos cinco vezes no depoimento prestado pelo Cabo
Anselmo ao Dops. Nove dias depois, a vítima foi sequestrada pelo mesmo
Carlos Alberto Augusto e mantido ilegalmente na prisão até 1973, quando
desapareceu. Há suspeitas de que Duarte foi sequestrado apenas porque
conhecia a verdadeira identidade do Cabo Anselmo, informante do regime”,
diz o MPF.
A tese do MPF de que o crime cometido
contra Edgar de Aquino Duarte não está prescrito é baseada em três
decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), “que autorizaram a
extradição de agentes acusados pelo Estado argentino de participação em
sequestros realizados há mais de 30 anos”.
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