terça-feira, 27 de julho de 2010

Ainda o Vazamento das Ações Americanas.

Duas notícias do estadão, selecionadas pelo Nassif dão o tom de como anda a questão dos vazamentos de informações provocados pelo site WikiLeaks.

A primeira:

Fundador da WikiLeaks diz que documentos indicam atuação de ''esquadrão da morte'' contra crianças e outros civis afegãos inocentes
Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo

O fundador da ONG WikiLeaks, Julian Assange, disse ontem que os mais de 90 mil documentos militares publicados no domingo em seu site revelam que crimes de guerra foram cometidos pelas tropas dos EUA e seus aliados da Otan no Afeganistão. Ele ainda defendeu a autenticidade do material.

Assange deu como exemplo as operações da chamada Força Tarefa 373 - que qualificou como "um esquadrão da morte" das forças especiais americanas -, encarregado de assassinar uma série de pessoas incluídas em uma lista arbitrária. "Mataram pelo menos sete crianças e outros inocentes", denunciou o fundador do WikiLeaks, que ressaltou também que algumas pessoas eram incluídas nessa lista "por recomendação de governos locais ou de outras autoridades com poucas provas e sem supervisão judicial".

O site WikiLeaks conseguiu concretizar o sonho de seus fundadores ao revelar 92 mil documentos secretos americanos sobre a guerra do Afeganistão. Em menos de 48 horas, a organização sem fins lucrativos, que já havia divulgado outras informações e vídeos sensíveis, transformou-se em um importante ator político nos EUA.

O australiano Julian Assange, um dos controladores do WikiLeaks, celebrava o resultado do vazamento dos documentos, comparando-os aos Papéis do Pentágono, que foram divulgados em 1971 e alteraram de forma definitiva a maneira pela qual os americanos encaravam a Guerra do Vietnã.

Toda a ação do WikiLeaks foi preparada com calma, para que o impacto da divulgação fosse o maior possível. Normalmente, depois de uma checagem interna, o site publica diretamente nas suas páginas cerca de 30 vazamentos diários de documentos enviados por fontes anônimas ao redor do mundo.

Desta vez, sabendo do peso das informações, o site preferiu ser mais cauteloso. Primeiro, entrou em contato com o jornal The Guardian, de Londres. Posteriormente, ampliou o leque para The New York Times e para a revista Der Spiegel. Assim, os documentos seriam divulgados, simultaneamente, em algumas das publicações mais importantes de três países importantes: Alemanha, EUA e Grã-Bretanha.

Os jornalistas ajudaram a verificar melhor os documentos e o New York Times convenceu o WikiLeaks a não publicar alguns que pudessem colocar em risco a segurança de pessoas. Esta foi a primeira vez que o site concordou em atrasar a publicação de documentos. As três publicações também foram responsáveis por falar com membros do governo e cruzar informações.

Fundada há três anos, a organização opera de uma forma similar à Wikipédia em alguns pontos. Há colaboradores espalhados pelo mundo. A diferença em relação à enciclopédia virtual está no mecanismo de coleta de informações. Pessoas com documentos que contêm revelações importantes podem colocar tudo no site, sem precisar se identificar.

Cautela. Os documentos sobre a guerra no Afeganistão são, até agora, a maior revelação do WikiLeaks. Por causa da ação, alguns analistas e os próprios fundadores acreditam que, com a exposição, mais segredos podem ser enviados para o site.

Até então, um dos principais escândalos revelados pelo WikiLeaks havia sido a divulgação, em abril, do vídeo de um helicóptero Apache dos EUA matando civis. O site também publicou uma cartilha sobre como deveriam ser tratados os prisioneiros de Guantánamo.


A segunda:


Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo

Constrangidos e irritados, assessores da Casa Branca tentavam ontem conter os danos políticos e militares causados pelo vazamento, no domingo, de 92 mil documentos militares secretos sobre a guerra no Afeganistão, reunidos pelo site WikiLeaks. O Departamento de Defesa qualificou a divulgação de "ato criminoso" e disse que estava lançando uma "caçada" para encontrar o responsável pelo vazamento.

O Pentágono também informou que está revisando os documentos para conter os danos, tanto para os EUA quanto para os seus aliados."Isto representa uma real e potencial ameaça aos que estão trabalhando todos os dias para nos manter em segurança", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. O presidente Barack Obama não quis responder às perguntas sobre o vazamento ao fazer uma declaração à imprensa sobre outra questão.

Os documentos vazados, uma coleção de dados da inteligência e relatórios sobre ameaças, a partir de janeiro de 2004 até dezembro de 2009, quando Obama ordenou o envio de mais 30 mil soldados ao Afeganistão, ilustram a falta de controle do Pentágono sobre as informações diante da deterioração da segurança e do fortalecimento do Taleban.

Segundo Julian Assange, fundador do WikiLeaks, os documentos são evidências de crimes de guerra que teriam sido cometidos pelos americanos. Os documentos descrevem ações militares mortíferas envolvendo militares dos EUA, incluindo um grande número de pessoas mortas, feridas, assim como a localização de cada evento. Os incidentes vão de disparos contra civis inocentes a grandes perdas de vidas em ataques aéreos.

"Irresponsabilidade". A divulgação do material, que comprovou o apoio ao Taleban do serviço de inteligência do Paquistão, principal aliado na luta contra o terror dos EUA (mais informações na página 16), foi qualificada como uma "irresponsabilidade" pelo general James Jones, chefe do Conselho de Segurança Nacional.

"Esses vazamentos irresponsáveis não atrapalharão o andamento do nosso compromisso de tornar mais profunda nossa parceria com o Afeganistão e o Paquistão para derrotar nossos inimigos comuns (Taleban e Al-Qaeda) e apoiar as aspirações dos povos afegão e paquistanês", afirmou. "O apoio dos EUA ao Paquistão continuará a ter como foco a construção da capacidade do país de acabar com a violência dos extremistas."

O porta-voz do Departamento de Estado, Peter Crowley, disse que os documentos são antigos e não refletem as situações e condições, que teriam sido corrigidas. Mas analistas dizem que as revelações podem comprometer o apoio público à guerra.

O caso está sendo comparado à divulgação, em 1971, dos Papéis do Pentágono - 14 mil páginas de documentos secretos sobre a Guerra do Vietnã. O escândalo afetou a credibilidade do governo do então presidente Richard Nixon.

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