quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Europa e a Homeopatia.

Rede Brasil Atual. Por Flávio Aguiar.


O uso de tratamentos homeopáticos sempre despertou polêmicas. Agora isso pode despertar uma nova guerra.

Devem os sistemas públicos de saúde continuar cobrindo os tratamentos homeopáticos? Em tempos de crise e de cortes em todos os investimentos públicos na área social – inclusive nos sistemas de saúde, realidade que corre a Europa com a velocidade e o castigo do minuano pampiano – a questão desperta defesas e ataques apaixonados.

Alegam os inimigos da homeopatia que ela não tem caráter científico, que não há provas de que os tratamentos de fato curem pacientes, que seu efeito seria o mesmo de um placebo alopático. Isto é, nenhum.

Cobrir a homeopatia num sistema de saúde seria, portanto, jogar dinheiro fora.

Entretanto... há mais no ar do que a vã filosofia da “lógica científica” consegue aceitar. O Conselho da União Européia recomenda oficialmente que os remédios homeopáticos tenham registro aceito, desde que não contenham doses perigosas de seus elementos ativos. Ou supostamente ativos, segundo os inimigos da prática.

Não há um único país que a proíba. A questão é sua inclusão no sistema público de custeio.

A popularidade da homeopatia varia muito de país para país. Por exemplo, 57 % dos alemães admitiram em pesquisa recente que já tomaram alguma vez na vida um remédio homeopático. 25 % – um número considerado alto – admitem que se tratam preferencialmente com a homeopatia. 11% declaram-se exclusivos. De qualquer modo, hoje na Alemanha é praticamente impossível encontrar uma farmácia que não tenha pelo menos uma estante reservada à homeopatia e outros tratamentos alternativos à alopatia tradicional.

Na Escócia, uma pesquisa de 2006 determinou que 49% das “práticas médicas” (receitas, aconselhamentos, dietas, etc.) tinham por base a homeopatia. Na Suíça, uma tentativa de tirar a homeopatia da cobertura pública deparou com um referendo em que dois terços dos votantes rejeitavam a medida.

No Reino Unido existe uma militância ferrenha contra a homeopatia. Recentemente a revista alemã Der Spiegel relatou uma experiência curiosa. Centenas de militantes anti-homeopáticos compraram vidros de um remédio à base de arsênico, usado contra intoxicação e náuseas. Todos, às dez horas de um certo dia, tomaram – não apenas algumas das pílulas – mas o vidro inteiro. Nada aconteceu. A rigor, a dose deveria provocar uma maré de náuseas capaz de por em risco a estabilidade do que resta do Império Britânico.
Mas os anti-homeopáticos esbarram numa parede intransponível: a Família Real, Príncipe Charles à frente, se trata homeopaticamente. Como retirar da lista de cobertura pública algo produzido “by appointment to Her Majesty the Queen”? Isso é pior do que a dúvida hamletiana sobre ser ou não ser.

No Brasil a homeopatia está entre os tratamentos aceitos pelo SUS, em nome do direito à escolha, e 108 municípios têm unidades de saúde homeopatas.

Voltando à Alemanha, aqui persiste o temor de que, se o sistema público não cobrir a homeopatia, haverá um êxodo de pacientes em direção a seguros privados que o façam. Qual o risco? Especialistas na matéria apontam que o usuário médio de homeopatia (que na maior parte são mulheres) é abonado ou de posses altas, tende a pagar por coberturas mais caras e, no entanto, fica menos doente do que a média dos outros.

Ou seja, para um tipo de cobertura que se queira solidária, esse tipo de paciente é fundamental. Contribui mais, custa menos.

Entretanto, há uma razão mais profunda para a fidelidade entre homeopatas e homeopáticos. Num sistema de saúde cada vez mais pressionado financeiramente, em que falta pessoal e em certas épocas do ano (como no último inverno rigoroso ou no verão senegalesco que ora se abate por estas bandas), os ambulatórios ficam abarrotados, a tendência geral é a do abreviamento das consultas. Não é incomum um paciente ver o médico por cinco ou dez minutos e ser encaminhado logo para um exame laboratorial (ou vários) ou para a farmácia mais próxima com uma receita na mão. Casos menos complexos ou ao contrário, mais complexos, de diagnóstico mais difícil, são remetidos (como tive a oportunidade de presenciar) para os médicos particulares.

Já na prática dos homeopatas, uma consulta dura pelo menos uma hora, e revira-se a vida do paciente pelo avesso: hábitos alimentares, de trabalho, de lazer, sonhos etc.

“Ora”, dizem os homeopatófobos, “é isso mesmo: a homeopatia é só conversa”. Respondem os homeopatófilos: “sim, mas é essa conversa que começa a fazer toda a diferença”.

Acho que a polêmica vai continuar.

Do Blogueiro> usei por muitos anos a homeopatia. Meus filhos cresceram tratados pela homeopatia. Acho que hoje, depois de anos de uso, tenho uma opinião mais ponderada. A homeopatia tem sim seu valor terapêutico, e não é pequeno. Entretanto, como tudo na vida, ela não dá conta de tudo sozinha. Deve ser sim uma opção para os que a queiram usar. Disso não tenho dúvida.

 

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