segunda-feira, 19 de julho de 2010

Anticomunismo Canalha

Por João José de Oliveira Negrão


A campanha de José Serra – ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), perseguido pelos mentores do golpe militar de 1964 –, na falta de discurso, começa a apelar para o que há de pior na tradição conservadora e de direita da política brasileira: o anticomunismo. Este, de tipo fascista e reacionário, conforme o Dicionário de Política, de Norberto Bobbio, “se traduz na sistemática repressão da oposição comunista, e tem por norma tachar de comunismo qualquer oposição de base popular”.

É triste para os democratas deste país, de diferentes partidos, ver que a campanha do PSDB – partido que agrega muitos dos que lutaram contra a ditadura – assumir este tom. Ontem, a Folha de S. Paulo trouxe que o candidato a vice na chapa tucana, o deputado carioca Índio da Costa, do DEM (ex-PFL), afirmou no site Mobiliza PSDB que o PT é “ligado às Farc, ao narcotráfico e ao que há de pior”. Ele também “acusou” a candidata Dilma Rousseff de ser “ateia”. Os tucanos com alguma memória hão de lembrar que a mesma “acusação” foi feita contra o então candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso.

Mas não ficou só nisso. O próprio Serra, dias atrás, resgatou uma expressão típica do udenismo, uma indefinida "república sindicalista", a mesma que serviu de mote para o golpe contra Jango em 1964. Ele está perto de, como Carlos Lacerda, principal líder udenista de então, em relação a Getúlio Vargas, em 1950, afirmar: ''Getúlio não pode ser candidato. Se for candidato, não pode ganhar. Se ganhar, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar. Se governar, tem de ser deposto''. Substitua-se Carlos Lacerda por Serra e Getúlio por Dilma e veremos que a situação é muito semelhante.

João José de Oliveira Negrão é jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor no Ceunsp
(Publicado no Bom Dia Sorocaba de 19/07/10 com título modificado pela redação para Anticomunismo)

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