quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pleno Emprego Ainda Não.

Rede Brasil Atual

Desemprego cai, mas Seade e Dieese criticam visões do pleno emprego

Ocupação cresceu e taxa recuou em junho, chegando em São Paulo ao menor nível para o mês em 20 anos; técnicos criticam também relatório do BC

São Paulo – Ao mesmo tempo em que anunciaram nova queda da taxa média de desemprego, técnicos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), de São Paulo, e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) criticaram os analistas que falam em uma situação de "pleno emprego" no Brasil, que provocaria pressões inflacionárias. As críticas atingiram também o Banco Central, que em março de 2008 publicou relatório sobre uma suposta "taxa natural" de desemprego, sugerindo relação entre desemprego e inflação. Os técnicos afirmam que o mercado de trabalho vive um bom momento, mas acrescentam que as taxas e o número de desempregados ainda são muito elevados.
"Não há nenhuma dúvida de que o mercado de trabalho se recuperou da crise, e de forma generalizada nas diversões regiões. A grande indagação que se faz atualmente é se nós vamos sustentar esse nível de crescimento", diz o economista Sérgio Mendonça, do Dieese. "A economia não está no ritmo do primeiro trimestre, quando estava crescendo quase 10% (em termos anuais). Agora está em 7% e talvez fique em 5% no último trimestre deste ano", acrescenta.

Em junho, a taxa média de desemprego apurada pelo Seade e pelo Dieese nas sete regiões pesquisadas foi de 12,7%, ante 13,2% no mês anterior, com queda de quase dois pontos percentuais em relação a junho de 2009 (14,6%). Segundo Mendonça, o resultado era o esperado para o período. Apenas no mês passado, 51 mil pessoas entraram no mercado, que criou 160 mil ocupações, resultando em 109 mil desempregados a menos, para 2,795 milhões. Na comparação anual, são 350 mil pessoas a mais no mercado (1,6%), 729 mil ocupados a mais (3,9%) e 380 mil desempregados a menos (-12%).

Dos 729 mil empregos novos em um ano, 622 mil são com carteira assinada, crescimento de 7,4%. O emprego sem carteira também cresceu, 1,9%, o correspondente a 37 mil assalariados a mais. "Isso (contratação sem carteira) acontece quando há algumas dúvidas em relação ao futuro", observa o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian.

Na região metropolitana de São Paulo, responsável por mais de 40% do total, a taxa média de desemprego em junho foi de 12,9%, a menor para o mês em 20 anos 12,1% em 1990). De maio (taxa de 13,3%) para junho, 29 mil ingressaram no mercado de trabalho, que criou 68 mil vagas. Com isso, o número de desempregados caiu em 39 mil, para 1,383 milhão. Em 12 meses, os números são mais expressivos: 192 mil pessoas a mais no mercado (crescimento de 1,8%), 304 mil ocupados a mais (alta de 3,4%) e 112 mil desempregados a menos (-7,5%). Das 304 mil vagas criadas, 223 mil foram com carteira assinada (expansão de 5%) e 45 mil, sem carteira (4,3%). O tempo médio de procura de emprego mantém-se em 35 semanas há quatro meses.

Nas sete regiões pesquisadas (Belo Horizonte, Distrito Federal, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo), das 729 mil novas ocupações em 12 meses, 292 mil foram abertas no setor de serviços (alta de 2,9%), 252 mil na indústria (9,3%), 119 mil na construção civil (10,7%) e 100 mil no comércio (3,3%).

O rendimento médio dos ocupados, calculado em R$ 1.259, cresceu 1,1% de abril para maio e 2,7% na comparação com maio do ano passado.

Segundo Loloian, mesmo com os resultados positivos as condições da economia ainda não despertam dúvidas. "Não há uma segurança absoluta", afirma, citando a situação externa e mesmo o temor despertado internamente com o crescimento brasileiro. "O Brasil é um dos poucos países que têm medo de crescer", acrescentando, citando as notícias que circulam sobre "pleno emprego" no país e o estudo do BC sobre a "taxa natural" de desemprego, que no caso brasileiro ficaria entre 7,5% e 8,5%, considerando a pesquisa do IBGE. "Essa é a besteira que se fala impunemente", diz Loloian.

Para Mendonça, do Dieese, os níveis de desemprego, embora efetivamente mais baixos, não devem ser comemorados. "O grande problema é o investimento", afirma o economista, para quem não haverá melhora consistente enquanto a taxa de investimento no Brasil não crescer de forma significativa, dos atuais 18% para pelo menos 25% a 30%.


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