domingo, 25 de julho de 2010

Datafolha em Xeque

Além do que já publiquei hoje sobre as discrepâncias nas últimas pesquisas eleitorais de dois institutos - Vox Populi e Datafolha - agora, no início da noite, Luis Nassif traz mais uma contribuição para o debate, que é no mínimo curiosa: aparentemente o datafalha não considera na pesquisa quem não tem telefone. Vamos ao debate. Primeiro a constatação:

DECIFRANDO O DATAFOLHA


Conversei agora há pouco com Marcos Coimbra, do Vox Populi, para entender as discrepâncias entre os dados do Vox e do Datafolha e tirar as dúvidas finais sobre o tema.

A explicação é claríssima.

Dentre os diversos cortes a serem feitos no universo dos entrevistados, um deles é entre os com telefone e os sem telefone.

No caso do Vox Populi, as pesquisas pegam todo o universo de eleitores. No caso do Datafolha, há um filtro: só se aceitam entrevistados que tenham ou telefone fixo ou celular.

Há algumas razões de ordem metodológica por trás dessa diferença.

A pesquisa consiste de duas etapas. Na primeira, os entrevistadores preenchem os questionários com os entrevistados. Na segunda, há um trabalho de checagem em campo, para conferir se o pesquisador trabalhou direito.

No caso Vox Populi, o entrevistador vai até à casa do entrevistado. A checagem é simples. Sorteia-se uma quantidade xis de casas pesquisadas e o fiscal vai até lá, conferir se o entrevistado existe, se as respostas são corretas.

No caso Datafolha, é impossível. Por questão de economia, o Datafolha optou por entrevistar pessoas em pontos de afluxo. Como conferir, então, se o pesquisador entrevistou corretamente, se não inventou entrevistados?

Em geral, um pesquisador consegue fazer bem 20 entrevistas por dia. O Datafolha anunciou ter realizado 10.000 pesquisas em dois dias, 5.000 por dia. Dividido por 20, são 250 entrevistadores. Como conferir a consistência dos questionários? Só se tiver o telefone no questionário.

É por aí que o Datafolha escorrega. O campo telefone é de preenchimento obrigatório. Com isso, fica de fora uma amostragem equivalente a todos os sem-telefone.

Segundo Marcos Coimbra, do universo pesquisado pelo Vox Populi, 30% não têm telefone nem fixo nem celular. Se se fizer um corte dos entrevistados, para o universo dos que têm telefone, os resultados do Datafolha batem com os do Vox Populi – diferença de 1 ponto apenas.

Quando entram os sem-telefone, Dilma dispara e aí aparece a diferença.

É possível que, mesmo telefone sendo de preenchimento obrigatório, o Datafolha inclua os sem-telefones? A resposta tem que vir do Datafolha.

Se não incluir, está explicada a difença, o que compromete mais uma vez a reputação técnica do Instituto. Se diz que inclui, o caso pode ser mais grave e escapar das diferenças metodológicas.

Também uma constatação de 2006:

DESDE 2006 DATAFOLHA SABIA DIFERENÇA ENTRE COM E SEM TELEFONE.

Por Lauro Melo
15/09/2006 - 09h56

Liderança de petista é menor entre quem tem telefone, diz Datafolha
da Folha de S.Paulo

Cruzamento de dados feito pelo Datafolha mostra que é bem menor a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para Geraldo Alckmin (PSDB) entre eleitores que têm telefone fixo.

Enquanto no geral Lula lidera por 50% a 28% e venceria no primeiro turno, entre os que têm telefone, a diferença cai de 22 pontos para apenas cinco: Lula tem 41%, e Alckmin, 36%.

Dos entrevistados pelo Datafolha nos dias 11 e 12 de setembro, 45% declararam ter telefone fixo, e 55%, que não têm.

A maioria do eleitorado de Alckmin tem telefone: 58%. Já entre os eleitores de Lula, apenas 37% possuem o aparelho.

O cruzamento ajuda a explicar o fato de os levantamentos internos feitos diariamente pela campanha de Alckmin, por telefone, produzirem sempre resultados mais favoráveis ao tucano do que os apontados pelas pesquisas em campo.

A discrepância entre os números no eleitorado geral e nos possuidores de telefone se explica pela distribuição dos votos entre os candidatos: enquanto Lula lidera com ampla vantagem entre os eleitores com menor renda, instrução e do Nordeste --justamente os que têm menor acesso à telefonia fixa--, Alckmin está na frente entre os eleitores com ensino superior e os de maior renda.

O Datafolha mostra, por exemplo, que os eleitores que só estudaram até o ensino fundamental são 51% no geral do eleitorado, mas apenas 39% entre os que têm telefone fixo. Já os que ganham mais de cinco salários mínimos são 26% entre os que têm telefone, 11 pontos a mais que no geral.

O Nordeste, onde Lula vence Alckmin por 70% a 15%, responde por 15% do eleitorado com telefone fixo, mas por 27% do eleitorado geral. Já o Sudeste, onde o petista tem 42% contra 33% do tucano, tem 44% do eleitorado geral e 56% dos que têm telefone.


E por fim, mas o que começou o debate, o pedido de esclarecimentos:


PARA DIRIMIR AS DÚVIDAS SOBRE O DATAFOLHA

Para dirimir de vez as dúvidas sobre as diferenças entre o Datafolha e o Vox Populi, enviei agora o seguinte email para Mauro Paulino, diretor do Datafolha.

Prezado Mauro Paulino,
Hoje abri uma discussão no meu Blog sobre as discrepâncias entre o Datafolha e o Vox Populi.

Com a ajuda dos leitores, resolvemos entender melhor o fator telefone. Depois, completei a análise com dados relevantes de Marcos Coimbira.

Em síntese, chegou-se à seguinte conclusão:
  1. A amostragem do Vox Populi abrangeria o perfil definido pelo PNAD, através do sorteio de regiões e de casas. A entrevista é feita na residência do entrevistado. Já o Datafolha se basearia em questionários colhidos na rua.
  2. Como toda pesquisa exige uma auditoria posterior, da próxima empresa, visando auferir a consistência dos questionários, no caso do Datafolha só entrariam pesquisados que tivessem telefone – fixo em casa, no trabalho ou celular.
  3. Segundo o Marcos Coimbra, nas pesquisas do Vox Populi esse contingente representa 30% do universo pesquisado. E, aí, há uma votação maciça pró-Dilma. Segundo Coimbra, um corte nas pesquisas do Vox Populi, considerando apenas a população com telefone, o resultado seria semelhante ao da Datafolha. Confirmado esse dado, estaria aí a explicação para a discrepância nos resultados dos dois institutos.
Para tentar esclarecer os fatos, indago então:

Qual o tratamento dado pelo Datafolha aos pesquisados que não têm telefone?

As pesquisas são descartadas ou não?Poderia fazer um corte nas pesquisas e apresentar os resultados para presidente em dois cenários: apenas com os entrevistados com telefone; e os entrevistados sem telefone.

No caso dos entrevistados sem telefone, caso suas entrevistas sejam utilizadas, como é feito para avaliar a consistência das respostas e se o trabalho do pesquisador foi de fato realizado?Qual o número de pesquisadores utilizados na última pesquisa Datafolha?


A internet é maravilhosa, não é mesmo???

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