domingo, 22 de janeiro de 2012

Batalha campal em troca da negociação

Da Carta Capital


PM e moradores se enfrentam durante reintegração

Um conflito de liminares na Justiça na última semana deu carta branca para que a Polícia Militar iniciasse, na manhã deste domingo 22, a retirada de milhares de moradores que vivem no assentamento Pinheirinho, em São José dos Campos.

A PM chegou ao local com a Tropa de Choque por volta das 6h – um horário, portanto, em que dificilmente os veículos de comunicação que acompanhavam o caso estariam de prontidão.
As primeiras informações chegaram pela internet. Moradores das proximidades relatam que os policiais chegaram armados ao local, e classificaram a ação como um “massacre”.

Polícia e moradores se medem durante operação frustrada, na sexta-feira 13, no assentamento Pinheirinho. Foto: Roosevelt Cássio/Folhapress

Embora não haja confirmação oficial, há informações de que sete pessoas teriam morrido durante a ação.

Segundo a assessoria da corporação, aproximadamente 1,8 mil policiais trabalham para retirar  9 mil pessoas que vivem há sete anos na área.

De acordo com a PM, os moradores atearam fogo nos acessos da ocupação para dificultar a entrada dos policiais. Para vencer a resistência, a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Ainda segundo a PM, um homem foi ferido por um tiro de munição real disparado pela Guarda Civil Metropolitana. Ele foi encaminhado a um hospital para receber atendimento médico. Agentes da prefeitura de São José dos Campos também dão apoio a operação.

A ação cumpre uma determinação da Justiça estadual de São Paulo em benefício da massa falida da empresa Selecta, do investidor libanês naturalizado brasileiro Naji Nahas. Os ocupantes dizem, entretanto, ter uma decisão do Tribunal Regional Federal contra a reintegração.

Segundo o jornal “O Vale”, de São José dos Campos, ao menos 11 pessoas foram detidas por resistirem à operação. Dois helicópteros estão sendo utilizados na operação – um deles com câmera para filmar e fotografar a ação.

Ainda de acordo com “O Vale”, um carro de transmissão móvel da TV Vanguarda  foi incendiado. O veículo seria usado para fazer links ao vivo.

Antes da ocupação, as vias de acesso ao assentamento foram bloqueadas. Os moradores, impedidos de sair de suas casas, entraram em confronto com a Guarda Municipal, que também dá suporte à operação. Segundo a PM, armas que seriam mantidas pelos líderes do movimento de resistência foram apreendidas pelos policiais.

Para saber o que acontece no local, o deputado Paulo Teixeira, líder do PT na Câmara, anunciou por volta das 10h que estava a caminho de São José dos Campos para tentar negociar uma solução pacifica.

Clima de guerra

Na semana passada, jornais de todo o País estamparam fotos impressionantes dos moradores do assentamento, que não se mostravam dispostos a deixar o local. Com capacetes e camisetas sobre o rosto, para não serem reconhecidos, eles improvisaram trincheiras, escudos, armas e montaram barricadas à entrada das casas em desafio aos policiais. Uma liminar na Justiça, emitida na sexta-feira 13, impediu a ação policial – e, consequentemente, o enfretamento.

Durante a semana, o Ministério Público Federal da cidade move uma ação contra a prefeitura local, que teria sido omissa no caso nos últimos sete anos.

O MPF aponta erros na trajetória dos órgãos oficiais da cidade. Segundo nota, desde 2006 a União procura fazer a regularização fundiária do local, mas encontrou resistência das autoridades do município. “O MPF encontrou resistência obstinada das autoridades municipais, o que caracteriza omissão juridicamente relevante”, afirma o texto. Além disso, a prefeitura teria se recusado a encontrar uma solução negociada.

Na ação, constam quatro liminares, que o órgão pede para que sejam aprovadas sem julgamento. Caso ocorra a reintegração de posse, o MPF exige da prefeitura garantias aos moradores de que, em até cinco dias, sejam cadastrados em programas habitacionais, seja concedido alojamento temporário em condições dignas de saneamento e que, em até um ano após a reintegração, as famílias recebam aluguel mensal suficiente para imóvel do mesmo padrão.

O órgão pede responsabilização da prefeitura e autoridades locais pelo abandono do assentamento, “transformando-se num verdadeiro bairro esquecido da cidade”. Segundo a ação, com o pretexto de que as habitações eram irregulares, a prefeitura negligenciou a população.

*Com informações da Agência Brasil

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