Da Rede Brasil Atual
São Paulo – A Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmou, no início
da noite da segunda-feira (9), que as denúncias de assassinato de uma
criança indígena da etnia Awá-Gwará em Arame (MA), a 210 quilômetros da
capital, não passam de um "boato infundado, uma mentira". As afirmações
foram divulgadas em nota pela Coordenação Regional da Funai em
Imperatriz (MA), com as conclusões da visita de uma comissão que foi ao
local para investigar o caso.
O suposto assassinato da criança indígena, que teria tido seu corpo
carbonizado por madeireiros em outubro passado, ganhou força na semana
passada por meio de redes sociais. A etnia Awá-Guajá, à qual pertenceria
a vítima, vive isolada na terra indígena Arariboia. O município de
Arame tem sido citado pela forte presença de madeireiras ilegais.
O relatório assinado pela Funai deverá ser contestado pelo Conselho
Indigenista Missionário (Cimi), autor das denúncias. A principal fonte
citada pelos servidores para esclarecer os acontecimentos é Clóvis
Guajajara, que segundo o próprio Cimi foi um dos autores da denúncia à
entidade, em novembro. O indígena agora afirma que tudo realmente não
passou de um boato. Porém, o relatório não esclarece as razões para o
equívoco, nem se a comissão chegou a visitar o local do acampamento onde
estaria o grupo awá-gwajá.
Além disso, o Cimi afirma que comunicou o crime à Funai em novembro
passado, e que este não tomou providências à época. Na nota de
esclarecimento divulgada apenas dois meses depois, a fundação nega que
tenha recebido a informação. "A Coordenação Regional do Maranhão em
momento algum foi informada do ocorrido", diz a nota.
O relatório também desqualifica blogueiros e internautas que
divulgaram a notícia. "A midia, inflamada por organizações com os mais
variados interesses, divulgou e deu dimensão que o sensacionalismo
adora: a internet com suas redes sociais."
Procurado, o Cimi prometeu responder à Funai no fim da tarde desta terça (10), também por meio de nota à imprensa.
Impunidade
Além dos episódios de violência a que estão submetidas, dezenas de
crianças indígenas morrem todos os anos por falta de condições próprias
de higiene, desnutrição e falta de atendimento médico, segundo
organizações humanitárias. Em janeiro do ano passado, oito pequenos
xavantes morreram em um intervalo de apenas 15 dias após um surto de
pneumonia. As afirmações foram feitas pela coordenadora do Cimi no
Maranhã, Rosimeire Diniz
A ativista enfatiza que o assassinato de adultos e crianças é
resultado da falta de fiscalização nas comunidades indígenas locais,
especialmente as isoladas. Segundo ela, não há informação de qualquer
posto de fiscalização em terras indígenas no estado, o que facilita a
atuação de madeireiros ilegais.
De acordo com Rosimeire, todas as denúncias são encaminhadas ao
Ministério Público e à Funai, mas dificilmente há punições. "Essa
situação de violência é comum e fora de controle, pois há descaso do
Poder Público. O número de madeireiras no estado dobrou, e elas sempre
estão abarrotadas (de madeira extraída da floresta). Enquanto isso, não temos notícia de nenhum posto de fiscalização na entrada dessas terras."
O chefe da Delegacia de Defesa Institucional da Superintendência da
Polícia Federal (PF) no Maranhão, Rodrigo Santos Correia, disse que não
há efetivo suficiente para atuar em todas as áreas ao mesmo tempo.
"Temos que fazer a atuação seletiva, escolhendo os locais em parceria
com órgãos como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a Funai, o Ministério Público e organizações não governamentais que atuam na área."
De acordo com o representante da PF, é quase impossível conseguir um
flagrante da exploração ilegal de madeira em reservas, uma vez que que,
quando a polícia chega os criminosos já deixaram a área devastada. "Os
próprios índios ajudam os madeireiros. Às vezes, a aldeia inteira recebe
algum benefício."
Com agências. Colaboração de Lúcia Rodrigues, da Rádio Brasil Atual
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