terça-feira, 14 de setembro de 2010

Espionagem Gaúcha

Brasília Confidencial No 335

AYRTON CENTENO

A espionagem de políticos, jornalistas, advogados e policiais na Casa Militar do Governo Yeda Crusius (PSDB) é, praticamente, dez vezes maior do que se imaginava.
 
Em vez das 10.000 consultas já reveladas, o sargento César Rodrigues de Carvalho, atualmente preso, acessou 95.000 vezes os dados do Sistema de Consultas Integradas. A informação foi dada à rádio Guaíba pelo promotor de justiça Amilcar Macedo, encarregado da investigação.
 
Macedo foi além: adiantou que a listagem que possui em mãos inclui muitos nomes novos, que não revelou, e  a violação de sigilo de “autoridades de maior status”.
 
Foram 51.000 acessos em 2009 – ou seja, 4.250 por mês. Em 2010, ano eleitoral, a atividade de  arapongagem, que já era grande, aumentou expressivamente. Até o dia 10 de agosto, o total bateu em  44.000 acessos.
 
Na tarde passada, o promotor Macedo foi barrado no Palácio Piratini, a sede do governo gaúcho. Ele  pretendia conversar com a chefia da Casa Militar. Após 1h20m, o promotor conseguiu cruzar o portão. Dali, seguiu para uma garagem que abriga os carros da Casa Militar onde realizou diligência.
 
Reagindo ao agravamento do quadro, o secretário estadual de Transparência e Probidade Administrativa, Francisco Luçardo, informou que o chefe da Casa Militar, tenente-coronel Marco Antonio Quevedo, deixará o cargo e pedirá aposentadoria. Luçardo ainda admitiu que houve “exageros” na utilização do sistema e  anunciou o início de uma reestruturação na pasta. No twitter, a governadora Yeda garantiu que a “radical mudança” que determinou na Casa Militar fará desaparecer “hábitos de décadas que desprotegem o governante”.
 
“A LAMA BATENDO NO TETO”
 
“Lista completa dos espionados pela polícia política de Yeda Crusius vai estarrecer a sociedade gaúcha”, postou ontem, também no twitter, o ex-ouvidor da Segurança Pública Adão Paiani. Exonerado no começo  de 2009, Paiani afirma que, na ocasião, denunciou a arapongagem tucana à própria Yeda, algo que, hoje,  admite ter sido “uma ingenuidade”. Tanto que, também ontem, tuitou: “Principal atriz do submundo político  do RS é a Governadora, comandante de esquema de corrupção e espionagem jamais visto na história do  RS”, agregando que Yeda, agora, “tenta desesperadamente se livrar do lodaçal onde se enfiou por conta e  risco”. Filiado ao DEM, Paiani afirma que a “lama bateu no teto do gabinete da governadora”.
 
Surpreendentemente, a governadora tuitou em resposta ao ex-ouvidor: “o hábito do cachimbo entorta a boca do dono. de novo paiani ñ, quem o usa para compor scripts de entrevista sabe dos seus hábitos desonestos”.
 
“SÍNDROME DOS HOLOFOTES”
 
De modo estranho, considerando-se para onde apontam as investigações, ela repara que “qto mais se mexer  nesse lodaçal de submundo de poder, + se vê o qto perturbei o q estava debaixo do tapete”... E continua: “qdo a informação de governo corre de modo transparente, os deslocados q atuam do velho jeito  ensandecem. afinal... fica clara a troca de favores c/ certos segmentos de imprensa e os atores desse  submundo q teima em gravitar em torno do poder. xô!” Yeda ainda critica o Ministério Público Estadual, a  quem acusa de provocar “a insegurança dos cidadãos” e de ter contraído “a síndrome dos holofotes”.
 
O araponga do PSDB disse ao promotor que agia obedecendo determinações de superiores e, também, por  curiosidade. Já o ex-ouvidor Paiani afiança que a ordem para espionar adversários políticos parte do núcleo de poder do governo tucano. Usando sua senha do Sistema de Consultas Integradas, o sargento Carvalho violou dados sigilosos do ex-ministro Tarso Genro, atual candidato do PT ao governo estadual; do  coordenador da campanha estadual petista, ex-deputado Flávio Koutzii; da ex-presidente da CPI da  Corrupção, deputada Stela Farias (PT); do senador Sérgio Zambiasi (PTB), de dois deputados do PTB e do ex-vice prefeito de Porto Alegre, Eliseu Santos, assassinado em fevereiro deste ano. Vasculhou a vida  também de jornalistas, advogados e policiais. No caso de Stela e de seu colega, o deputado estadual Luis  Augusto Lara, o espião acessou dados, fotos e monitorou as rotinas dos filhos deles, inclusive de uma criança de oito anos.


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