Do Conversa Afiada
O Conversa Afiada reproduz análise da newsletter do Bradesco sobre os resultados do Censo 2010.
É um tributo ao trabalho do Nunca Dantes !
Chora, Fernando Henrique, chora !
Ontem, hoje e amanhã: o Censo Demográfico de 2010, as transformações estruturais e as perspectivas para o futuro
Sumário Executivo
Este trabalho busca avaliar os
impactos das transformações da sociedade brasileira apontadas pelo Censo
Demográfico nas perspectivas para o consumo de diferentes itens e para a
composição da renda, combinando tais informações com dados de outras
pesquisas do IBGE (PME, POF, PNAD)
O Censo Demográfico de 2010 aponta
que a população brasileira está em uma trajetória de envelhecimento, em
função da rápida redução da taxa de fecundidade (pp. 2-3).
Diferenças regionais persistem: no
Norte/Nordeste ainda é elevada a taxa de fecundidade, e é maior a taxa
de dependência de crianças, enquanto que no Centro-Sul os níveis da taxa
de fecundidade são bem mais baixos e a taxa de dependência de idosos se
destaca em níveis mais elevados do que a média (p. 3)
A composição das famílias também
tem se alterado significativamente, em direção a domicílios com menor
número de moradores e ao aumento das estruturas familiares baseadas em
pessoas sós e em casais sem filhos, em detrimento da redução de casais
com filhos (p. 4).
Os ganhos do crescimento na última
década foram apropriados por maior parcela da população, engendrando um
processo de significativa mobilidade social (as Classes A, B e C
aumentaram em cerca de 45 milhões de pessoas entre 2004 e 2011) (pp.
4-5).
Esse processo se baseou ao menos em
parte no aumento da escolaridade, na maior formalização do mercado de
trabalho e na forte expansão de programas de transferência de renda (pp.
5-7)
Conforme aumentar mais o nível de
escolaridade da população, mais difícil será verificar uma reversão do
processo de mobilidade social, já que conforme as pessoas possuem mais
anos de estudo, diminui a probabilidade que descendam para classes
sociais mais baixas (pp. 7-8).
Ainda existe significativo
potencial a ser explorado para determinados bens duráveis (em especial
computadores, automóveis e máquinas de lavar), mas a taxa de troca mais
rápida em função do avanço tecnológico favorece também as vendas de
televisões (pp. 8-10).
O mercado potencial de automóveis
poderá se ampliar significativamente no Brasil e o País ainda está muito
longe de atingir um nível de saturação do tamanho da frota em relação à
sua população (p.10).
A continuidade do processo de mobilidade social também beneficiará largamente o setor de serviços (p. 11).
O Censo Demográfico e os avanços do Brasil entre 2000 e 2010
O Censo Demográfico de 2010 teve
mais uma rodada de divulgação de resultados em Novembro de 2011, se
restringindo de maneira geral a indicadores agregados, mas para algumas
variáveis disponibilizando uma abertura para municípios e seus distritos
e bairros. Informações socioeconômicas, que até então eram analisadas
por pesquisas amostrais ou referentes a apenas partes do País, agora
foram consolidadas por esta pesquisa censitária, o que garante que
estejamos de fato analisando a realidade do País como um todo.
Entretanto, mais do que apenas
apresentar as informações, é importante identificar o que elas apontam
para a próxima década em relação à estrutura da economia, ao novo perfil
da população e às suas implicações para a estrutura do consumo. Por
consequência, é possível inferir quais são os principais setores que se
beneficiarão dessa nova composição demográfica.
Movimentos demográficos na década: em direção a uma população mais velha, que crescerá cada vez menos
O Brasil tem passado por um
processo significativamente acentuado de envelhecimento de sua população
quando comparado a outros países que se encontram em um momento
demográfico semelhante. Tal fato se deve à queda extremamente forte da
taxa de fecundidade brasileira nos últimos anos, principalmente se
analisada em relação às taxas de países em estágio de desenvolvimento
semelhante (Gráfico 1). Este é um dos elementos mais relevantes para
explicar a rápida mudança na composição etária da população.
É importante destacar que o
processo de redução da taxa de fecundidade, apesar de ter ocorrido em
todas as regiões do País, não foi suficiente para diminuir a
heterogeneidade regional do seu nível (Gráfico 2). Desse modo, a região
Norte permanece com a taxa mais elevada (2,42 filhos por mulher em idade
fértil), e as áreas com maior urbanização e acesso a serviços de saúde e
educação (Sul e Sudeste) persistem com os níveis mais baixos (1,66 e
1,75, respectivamente).
A consequência direta desse
processo pode ser verificada pela comparação das pirâmides etárias de
2000 e 2010 (Gráfico 3). De fato, em apenas 10 anos houve um
deslocamento significativo do grupo mais representativo da população das
faixas de 0 a 24 anos para 10 a 29 anos. Como a taxa de fecundidade
nacional já está abaixo do nível de reposição, que é de 2,10 filhos por
mulher em idade fértil, a base da pirâmide tende a se tornar cada vez
mais estreita, o que implica que nas próximas décadas a população em
idade ativa deixará de apresentar incrementos tão significativos como os
observados nos últimos anos.
Com essa tendência de redução do
ingresso de pessoas na população em idade ativa projetada para os
próximos anos, alguns fenômenos adicionais devem surgir. Por um lado, a
taxa de dependência de crianças deve diminuir, já que esta é a faixa
etária cujo tamanho relativo cai primeiro quando comparada às demais
faixas etárias, em função da queda da taxa de fecundidade. Por outro,
combinando os efeitos da diminuição desta taxa com o aumento da
expectativa de vida (devido aos avanços da medicina, entre outras
razões), a população idosa deve ganhar cada vez maior importância
relativa na população, fazendo crescer a taxa de dependência de idosos.
Entretanto, existem diferenças
bastante expressivas entre as regiões do Brasil no que concerne à queda
da taxa de fecundidade, como já mencionado, resultando em taxas de
dependência bastante distintas entre as diferentes Unidades da Federação
(Gráfico 4). Dentre aquelas com elevada taxa de dependência,
destacam-se as localizadas nas Regiões Norte e Nordeste, sendo que seu
principal componente para esta taxa é o elevado percentual de crianças
na PIA (população em idade ativa). No Centro-Sul, a situação é oposta:
as taxas de dependência são mais baixas e, em comparação com o restante
do País, o componente de idosos tem um peso maior. Como apontado
anteriormente, as distinções das estruturas econômicas e dos acessos à
informação nos dois polos do País está correlacionada com este padrão
antagônico.
Uma implicação adicional da mudança
de planejamento familiar e da consequente redução do número de filhos é
que cada vez mais os domicílios comportam famílias com menor número de
membros. No Gráfico 5, pode-se verificar que os domicílios com até 3
moradores ganharam participação relativa no total, enquanto que os
domicílios com maior número de moradores perderam participação. Algumas
consequências diretas disto podem ser sintetizadas pelo fato de que a
qualidade de vida das famílias passa a ser maior ao ter que repartir
determinada renda entre menos membros e ter gastos fixos menores. Além
disso, o fato do número de filhos ser menor (e, portanto, o custo de
mantê-los na escola ou realizando atividades extracurriculares é mais
baixo) permite que as mães retornem ao mercado de trabalho mais
rapidamente, contribuindo para ampliar a renda familiar de maneira
significativa.
Mobilidade social e as perspectivas para o consumo
Os movimentos demográficos de um
país estão associados aos elementos propulsores do crescimento de longo
prazo e permitem discriminar perspectivas para as próximas décadas.
Entretanto, a década de 2000 também assistiu a outras mudanças bastante
relevantes para a economia brasileira. Se estes movimentos de fato se
solidificarem e ganharem cada vez mais força, poderão gerar uma
estrutura social propiciadora de redução da desigualdade. Ao mesmo
tempo, o maior crescimento relativo da renda das faixas menos abastadas
da população possibilita que mais pessoas integrem o mercado consumidor.
Adicionalmente, a melhoria das condições de crédito (prazo e juros),
que ocorreu principalmente a partir de meados da década de 2000,
permitiu que, para um mesmo nível de renda, fosse possível acessar bens
de maior valor agregado.
No Gráfico 6, verificamos que a
distribuição da massa de renda entre os decis da população entre 2000 e
2010 se deslocou na direção da redução da desigualdade, ou seja, a massa
de renda dos dois decis superiores perdeu participação no total,
enquanto que os decis inferiores ganharam participação. É patente o fato
de que ainda existe um caminho significativo a ser percorrido na
direção de reduzir a desigualdade no País, mas em relação às décadas
anteriores, os anos 2000 representaram um avanço importante, pois o País
cresceu e mais pessoas se beneficiaram disso.
De fato, considerando a evolução da
distribuição de classes no Brasil, entre 2004 e o início de 2012 o
incremento de população nas Classes A, B e C1 foi de cerca de 45 milhões
de pessoas, enquanto que a Classe E se reduziu em 25 milhões de pessoas
(Gráfico 7). Alguns fatores que serão discutidos a seguir podem
explicar ao menos parcialmente tal processo: aumento da escolaridade da
população, maior formalização do mercado de trabalho, expansão de
programas de transferência de renda, entre outros.
Em primeiro lugar, é interessante
observar que tanto a escolaridade (níveis de ensino completados) como a
escolarização (frequência escolar) da população se expandiram
significativamente na última década. O Brasil ainda está bastante
defasado em relação a outros países latino-americanos ou mesmo à Rússia e
à China quanto à média de anos de educação de sua população.
Entretanto, os esforços recentes do governo com o intuito de
universalizar o ensino levaram ao movimento verificado no Gráfico 82,
que representa a abrangência do ensino no nível fundamental e a
ampliação do acesso aos ensinos médio e superior e à educação infantil.
Vale destacar que ao menos parte do movimento de redução da razão
relativa ao ensino fundamental e do aumento da do ensino médio é
explicada pelo fato de que mais pessoas passaram a cursar o nível
escolar correto para a sua idade3.
Já o esforço da ampliação da
escolaridade da população tem como consequência um crescimento
significativo do número de pessoas com níveis mais elevados, como mostra
o Gráfico 9. Destacam-se o número de pessoas com nível médio completo e
superior incompleto, que se expandiu em 18 milhões, e com superior
completo, que mais do que dobrou, crescendo em 6,5 milhões de pessoas. É
essencial para as perspectivas de crescimento econômico que este
movimento continue e até se acentue. Outro ponto a ser lembrado é que
não só a quantidade, como também a qualidade do ensino deve ser
promovida. Isso porque um dos fatores mais importantes que explicam o
aumento da escolaridade até o final do ensino fundamental é o sistema de
progressão continuada, o que não tem necessariamente contribuído para
que os alunos ampliem seu aprendizado efetivo4. Avaliações
internacionais, tais como o PISA (realizado pela OCDE), mostram que o
Brasil está muito atrás dos demais países em termos de habilidades como
compreensão de leitura, matemática e ciências de seus alunos (em 2009, o
País estava abaixo da média da OCDE em todas essas disciplinas,
encontrando-se na 53ª posição de 65 países avaliados, à frente apenas de
países em desenvolvimento).
O segundo fator elencado como
propulsor da mobilidade social recente foi o processo de formalização da
força de trabalho. Ao longo da década de 2000, houve significativo
aumento absoluto dos empregados com carteira de trabalho assinada e
ligeira redução do número de empregados sem carteira assinada, como
mostra o Gráfico 10. Além disso, os militares e funcionários públicos
estatutários passaram de 3,7 para 4,9 milhões entre 2000 e 2010. Vale
destacar também o crescimento do grupo de conta própria, que é bastante
heterogêneo, e inclui desde profissionais liberais a vendedores
ambulantes (e, portanto, não é possível discernir se essa expansão se
deu no grupo mais estável de ocupação ou naquele cuja possibilidade de
ser afetado por uma instabilidade da economia é maior).
Adicionalmente, a década aqui
analisada apresentou uma evolução bastante significativa de programas de
transferência de renda, com especial destaque para o Programa Bolsa
Família. Entre 2005 e 2011, o volume médio despendido mensalmente nesse
programa saltou de patamares próximos a R$ 340 milhões para R$ 1,4
bilhão, sendo que o número de famílias beneficiadas cresceu de 5 milhões
para 13 milhões no mesmo período (Gráfico 11). Além de propiciar
aumento da renda das famílias mais pobres, o Programa Bolsa Família tem
condicionalidades5 que possibilitarão que as novas gerações dessas
famílias tenham uma base melhor para obterem maior renda no futuro.
Souza (2011) destaca que, por mais que não seja possível avaliar o
estado atual dos primeiros beneficiados por programas sociais que foram
introduzidos desde 1995 (Bolsa Escola e Renda Mínima), considerando
informações contemporâneas, o impacto do Programa Bolsa Família parece
ser pequeno, mas não desprezível, em especial sobre a escolaridade dos
indivíduos. Entretanto, devido à boa focalização do Programa, seus
impactos de curto prazo reduzindo a pobreza das famílias são
significativos e relevantes para explicar a queda da desigualdade
observada na última década.
Condições para a sustentabilidade do processo de mobilidade social
Portanto, os incentivos à expansão
da renda foram abundantes nos últimos anos. Há um elemento adicional a
ser considerado: o deslocamento da população em direção ao grupo de
pessoas com maior renda, com maior formalização, mais velhas e mais
escolarizadas por si só torna o emprego mais estável. Isso porque as
informações da Tabela 1 indicam que a probabilidade de perder emprego 1
ano à frente decresce conforme ocorrem estes movimentos (excetuando-se o
caso da escolaridade, no qual pessoas sem instrução e com ensino
fundamental incompleto têm menor probabilidade de perder emprego, 2,2%,
do que as pessoas com os dois níveis seguintes de escolaridade; isso
pode se dever ao fato de que a mão de obra pouco qualificada tem tido
uma demanda bastante elevada, por exemplo pelo setor de construção
civil). Assim, não só os fatores destacados anteriormente contribuem
para a mobilidade social, como engendram uma situação de maior
estabilidade no emprego, e, portanto, diminuem a possibilidade de que
esse processo de aumento da renda com distribuição de renda se reverta.
Para aprofundar um pouco mais este
tema, uma informação adicional que permite analisar em que medida a
expansão da classe C é sustentável é a evolução da escolaridade de seus
componentes. Ou seja, busca-se um indicador de se as pessoas que
ascenderam socialmente apresentam ou não tendência de retornar ao grupo
anterior. Nesse sentido, avaliar a evolução da escolaridade deste grupo
parece ser um início, já que se tiver ocorrido um aumento da
participação dos níveis mais elevados de escolaridade, serão obtidos
indícios de menor probabilidade de que estas pessoas voltem para uma
classe mais baixa.
Para complementar esta avaliação, a
Tabela 2 apresenta a probabilidade das pessoas de cada classe
ascenderem, descenderem ou se manterem na mesma classe um ano à frente
por escolaridade. Conforme aumentam os anos de estudo das pessoas,
cresce a probabilidade de ascensão social em todos os níveis de renda e
cai a probabilidade de descender socialmente. Outro elemento relevante é
que as Classes E e D apresentam as maiores probabilidades de
ascenderem, e a Classe C mostra maior probabilidade de manutenção (em
função do corte de renda ser mais amplo).
Perspectivas para o mercado de bens duráveis
Por fim, com relação à posse de
bens duráveis, e concomitantemente avaliando o mercado potencial para
tais produtos, existe uma significativa heterogeneidade entre as classes
sociais e os produtos considerados (Gráfico 13). O primeiro fato que se
destaca é que quase todas as famílias possuem televisão, fogão e
geladeira. Por outro lado, a posse quase universalizada de automóvel se
restringe majoritariamente às Classes A e B, enquanto que cerca de 40%
das famílias de Classe C, menos de 15% da Classe D e cerca de 7% da
Classe E tinham pelo menos 1 automóvel em 2009. Um padrão bastante
semelhante é observado para computadores e máquinas de lavar.
De fato, o primeiro grupo de bens
(televisão, fogão e geladeira), de maneira geral, parece mais essencial,
sem itens que possam substituí-los diretamente, enquanto que os demais
itens podem ser considerados mais “supérfluos”. Muitas famílias
substituem a máquina de lavar por uma opção mais barata, como o
tanquinho, ou então pelo trabalho manual de maneira direta. Automóveis
podem ser substituídos por transporte público e a utilização de
computadores ainda está se disseminando na população (e o avanço
tecnológico tem reduzido seu custo de maneira significativa nos últimos
anos). É importante destacar também que o valor de um automóvel pode ser
extremamente elevado para uma família de Classe D ou de Classe E,
inclusive porque sua renda impossibilita o acesso a um financiamento
para adquiri-lo.
Mais do que avaliar quais famílias
já possuem cada bem durável, é importante entender qual a taxa de troca
dessas famílias, ou seja, com qual frequência elas adquirem tais bens.
Uma aproximação desse indicador é encontrada no Gráfico 14, no qual
estão representados os percentuais de famílias por classe social e por
época de aquisição. De fato, a Classe A apresenta a maior participação
dos que compraram computador (35%), televisão (38%) e automóvel novo
(pouco mais de 30%) nos últimos dois anos. Considerando fogão, geladeira
e máquina de lavar, a taxa de troca de todas as classes é mais lenta,
já que são bens mais duráveis e que não têm sofrido transformações
significativas em suas características apesar dos avanços tecnológicos.
Combinando o movimento de
mobilidade social acima identificado e o perfil de acesso e de aquisição
de bens duráveis, é possível avaliar que ainda existe um potencial de
mercado bastante significativo a ser explorado, principalmente no que
concerne aos automóveis, computadores e máquinas de lavar. Para esse
grupo de bens, o aumento da renda familiar está diretamente associado à
maior probabilidade de possui-lo e de tê-lo comprado em um período mais
recente. Vale ressaltar que mesmo para os bens que já estão mais
disseminados entre as famílias, o crescimento da renda proporciona taxa
de troca mais rápida (principalmente para televisão à cores). É
importante ainda destacar que uma parte das vendas de bens duráveis pode
se basear na decisão das famílias de trocá-los por modelos mais novos,
ou seja, não são apenas as famílias que não possuem tais bens que
constituem o mercado potencial dos mesmos, mas sim toda a população, em
maior ou menor medida, compõe este mercado.
Existe significativo potencial de expansão para o mercado de automóveis
Avançando um pouco mais na análise
do mercado de automóveis, a OCDE9 desenvolveu um trabalho comparando a
frota de países e seus PIBs per capita, encontrando uma relação positiva
não linear que demonstra que conforme cresce a renda de um país
(tomando por proxy seu PIB per capita), aumenta a frota de automóveis
relativa à sua população (Gráfico 15). Além disso, o trabalho aponta
para a existência de uma possível saturação desse mercado, ou seja, a
partir de determinado ponto o crescimento da frota de automóveis vai ser
meramente vegetativo de acordo com a expansão da população e a
reposição do estoque que se deprecia. Dentre os países analisados, os
Estados Unidos possuíam o número mais próximo do limite superior de
carros por 1.000 habitantes, cerca de 800. Já o Brasil ao longo da
década de 2000 apresentou uma evolução relevante de sua renda média e de
sua frota, mas ainda possui um significativo potencial de expansão do
consumo de automóveis conforme aumente sua renda.
Entretanto, existe uma importante
heterogeneidade na população brasileira, com elevada desigualdade de
renda, de modo que ao separá-la em quintis de renda média familiar per
capita, encontram-se níveis médios de renda bastante distintos entre
cada grupo10. Além disso, o tamanho da frota de automóveis em relação à
população de cada quintil atinge níveis significativamente diferentes.
Ao plotar tais pontos no Gráfico 15, percebe-se que o 5º quintil, de
renda mais elevada, possui uma frota relativa à sua população que se
aproxima à da Coréia do Sul. Já os demais quintis ainda apresentam
níveis bastante baixos tanto da renda média como da frota. Esta análise
permite observar que o potencial de mercado de veículos pode ser
explorado amplamente na medida em que a renda média evolua.
Adicionalmente, o quintil superior (5º quintil) também não está
saturado, e um aumento de sua renda também permitirá que a sua frota de
automóveis se amplie significativamente.
Como conclusão, o crescimento da
renda tenderá a ampliar o desejo das famílias por bens duráveis novos.
Outro elemento essencial para fortalecer este mercado é a melhoria das
condições de crédito, incluindo a redução das taxas de juros e a
extensão de prazos. Isso porque bens duráveis de maneira geral requerem
um dispêndio mais elevado, e o maior acesso a financiamentos permite que
a renda mínima para adquiri-los caia significativamente. Portanto,
considerando que os movimentos observados ao longo desta década
continuem a ocorrer nos próximos anos, será possível ampliar as vendas
de bens da linha branca, de eletroeletrônicos e de automóveis.
Potencial de expansão dos gastos com serviços
O último item a ser analisado neste
trabalho se refere à distribuição do gasto médio mensal familiar com
serviços de acordo com a renda. No Gráfico 16 verifica-se que existe uma
relação positiva entre estes dois elementos. Assim, o crescimento da
renda faz com que a massa de gastos com serviço se amplie de maneira
significativa. Portanto, as perspectivas futuras de continuidade do
processo de mobilidade social fazem com que este setor se destaque em
relação ao seu potencial de crescimento.
Conclusão
Em suma, este trabalho buscou
identificar os principais movimentos demográficos e socioeconômicos
apontados pelo Censo Demográfico de 2010 e por um conjunto de pesquisas
adicionais. Hoje o Brasil é um país mais maduro em termos da estrutura
etária de sua população, com menor perspectiva de crescimento
populacional e com famílias menores. Por outro lado, os avanços na área
social resultaram em uma configuração de classes sociais muito mais
favorável que a do início da década, e, considerando a possibilidade de
continuidade deste processo, as perspectivas para o consumo de bens
duráveis e de serviços são bastante positivas.
Referências
Haugh, D.; Mourougane, A.; Chatal, O. (2010) The automobile industry in and beyond the crisis. OECD Working Paper 745.
Menezes-Filho, N.A.;Vasconcellos,
L.; Werlang, S.R.C.; Biondi, R.L. (2009). Avaliando o impacto da
progressão continuada nas taxas de rendimento e desempenho escolar no
Brasil.
Ribas, R.P.; Soares, S.S.D. (2008)
Sobre o painel da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Texto para
Discussão 1348, Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada.
Souza, A.P. (2011) Políticas de
distribuição de renda no Brasil e o Bolsa-Família. Centre for Applied
Microeconomics, São Paulo School of Economics, Working paper 1/2011.
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