Do CIMI
Renato Santana
de Rio Branco (AC)
Morreu
na manhã desta quinta-feira (23/02) a liderança Pataxó Hã-Hã-Hãe José
Muniz de Andrade, 40. O indígena estava em área recentemente retomada na
região das Alegrias, município de Itajú do Colônia, quando começou a
sentir dores no peito e estômago. Um carro foi enviado para prestar
socorro, mas impedido de acessar a retomada para prestar socorro a José
Muniz.
Representantes
da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Polícia Federal (PF) se
dirigiram ao local para encaminhar o corpo ao Instituto Médico Legal
(IML) de Itabuna (BA). Quando chegaram à estrada de acesso ao local da
retomada foram surpreendidos por jagunços armados, além de paus e pedras
impedindo a passagem dos veículos.
"Tudo
indica que tenha sido enfarte a causa da morte. No entanto, está claro
que os jagunços impediram a passagem para o atendimento médico", declara
o chefe da Coordenação Técnica da Funai local, com sede no município de
Pau Brasil, Wilson Jesus. O servidor da Funai ressalta que a tensão
está concentrada na região das Alegrias.
A
morte causou revolta na comunidade e deixou ainda mais tensa a
conturbada relação entre jagunços - contratados para expulsar os
indígenas das terras retomadas - e os Pataxó Hã-Hã-Hãe. A PF requisitou
reforços e espera autorização do Ministério da Justiça para permanecer
nas áreas de conflitos de forma permanente.
"Os
fazendeiros são organizados em toda a região e sempre atacam os
indígenas quando ocorrem as retomadas de terras de ocupação tradicional,
mas os Pataxó Hã-Hã-Hãe resistem", explica o servidor da Funai.
Mais três retomadas
Nesta
quinta-feira mais três áreas de ocupação tradicional foram retomadas e
totalizam 48 desde o dia 1° de janeiro deste ano, quando os Pataxó
Hã-Hã-Hãe iniciaram uma série de retomadas de terras que aguardam
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) há 30 anos. A Ação Cível
Originária (ACO) 312 pede que os títulos das propriedades rurais sejam
considerados nulos.
Em
2008, Eros Grau, relator do processo, recebeu os indígenas e seu voto
foi pela nulidade dos títulos. Hoje está aposentado do STF, mas tanto o
voto como a relatoria não perdem a validade. Segue na votação, conforme a
pauta, a ministra Carmem Lúcia. Em setembro de 2011, a votação foi adiada por duas vezes.
Conforme
relatou o ex-ministro, a perícia antropológica demonstrou a existência
permanente de índios na região desde 1651, "o que atesta a identidade do
povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, bem como a ligação de seus integrantes à terra,
que lhes foi usurpada", de acordo com o texto.
O
relatório de Eros Grau salienta ainda que o argumento de que não é
necessária a prova de que as terras foram de fato transferidas pelo
Estado da Bahia à União ou aos índios, "ao fundamento de que disputa por
terra indígena entre quem quer que seja e índios consubstancia, no
Brasil, algo juridicamente impossível". Considera, assim, que títulos
oriundos de aquisição a non domino (aquilo que não é proveniente do dono) são nulos.
Nenhum fazendeiro mais
As
três retomadas desta quinta ocorreram na região de Mundo Novo, dentro
do município de Pau Brasil. As demais se estendem aos municípios de
Itajú do Colônia e região de Jacareci, município de Camacã. Todos os
latifundiários foram retirados das terras e mais nenhum permanece nas
terras tradicionalmente comprovadas como indígenas, conforme informações
da Funai, exceto na área do rio Pardo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário