Luis Nassif
No Ministério da Fazenda há a agenda comum com o Banco Central de redução do “spread” bancário (diferença entre taxas de captação e de aplicação dos bancos comerciais).
Ainda não existe um pacote definido de medidas, mas a agenda foi
retomada. O “spread” é resultado da taxa de inadimplência do banco, mais
impostos, mais margem de lucros dos bancos e também da política
monetária (definição do nível do compulsório, isto é a parcela dos
depósitos bancários recolhidos ao BC, e a taxa Selic).
Pelas análises iniciais, constata-se que não dará para reduzir
impostos. Tem-se reduzido o compulsório e flexibilizado a taxa de juros.
A margem dos bancos depende da competição. Sobra a inadimplência a ser
atacada, através de uma série de medidas destinadas a melhorar as
estatísticas do sistema e aprimorar as análises de crédito.
Essa retomada dos estudos microeconômicos se deve à relativa folga proporcionada pela economia mundial.
Nos Estados Unidos, foi prorrogado o programa de
desoneração fiscal de Obama e o seguro desemprego. Mudou a perspectiva
da economia e poderá nem ocorrer desaceleração do PIB norte-americano.
A União Europeia continua preso a soluções com tempo de
validade, como é o caso da Grécia. O lado positivo é o fato do Banco
Central Europeu estar injetando mais liquidez na economia reduzindo o
risco de crise financeira. Mas falta crescimento para poder fugir da
armadilha da crise fiscal.
A China experimentará uma desaceleração modesta, de 9,5% para 8,5% de crescimento.
O fato novo são as tensões
No caso brasileiro, estima-se um crescimento ao longo do
ano. No final do ano, a economia poderia estar crescendo a um ritmo
anualizado de 5 a 6% ao ano – projeção mais otimista que a do Banco
Central. A discussão é apenas sobre o ritmo de aceleração, já que se
aceita que haverá.
A discussão é sobre o ritmo de aceleração.
Os recentes cortes de R$ 50 bilhões no orçamento, a
rigor, não deverão interferir no ritmo da atividade econômica. Na
verdade são cortes em relação ao que foi orçado pelo Congresso. Se se
comparar o novo orçamento com o do ano passado, se verá crescimento. O
que ocorreu foi muito mais um corte na expectativa negativa de
crescimento de despesas.
Além disso, o contingenciamento orçamentário preservou
os investimentos públicos. E visou exclusivamente manter os compromissos
com superávit.
Assim, ao contrário de outros anos, a parte fiscal será
neutra, não acelerará mas também não significará um freio no crescimento
da economia, ao contrário do ano passado, quando foi claramente
restritiva.
Em relação ao câmbio, não há preocupações de curto
prazo. O déficit nas contas externas têm financiamento. O problema são
os impactos sobre o desenvolvimento produtivo. Mas aparentemente não é
preocupação de primeiro plano.
A inflação ainda está elevada, mas está claramente
desacelerando, proporcionando maiores graus de liberdade na política
monetária. Alguns estudos de consultorias de mercado mostram que,
dessazonalizados os dados, a inflação correntes está rodando a 4,5% ao
ano. A aposta da Fazenda, assim como do BC, é chegar ao final do ano com
o IPCA abaixo dos 5%.
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