A convocação dos oficiais aposentados para um ato público em favor da
ditadura militar, nesta quinta-feira às 15h, horário semelhante aos dos
manifestantes que tomarão a Cinelândia em uma manifestação de apoio à
Comissão da Verdade, ganha contornos de uma paródia ao enfrentamento nos
moldes conhecidos durante os Anos de Chumbo. Por e-mail, em mensagens apócrifas, militares
afastados das tropas por alcançar idades acima dos 65 anos, apresentar
problemas de saúde ou psicológicos, usam dos velhos jargões dos governos
ditatoriais na tentativa de convocar simpatizantes a uma campanha
denominada Brasil acima de tudo.
Com base no manifesto em que os sócios do Clube Militar, instituição
ligada à ultradireita, com sede no Centro da cidade, tentaram pressionar
– sem sucesso – a presidente Dilma Rousseff para não seguir adiante com
as investigações de abusos e tortura de prisioneiros durante o regime
de 64, os indivíduos que já não usam mais a farda e passam o tempo entre
uma e outra conspiração contra a democracia, apelam aos aliados daquela
era na tentativa de arregimentar apoiadores à palestra do general Luiz
Eduardo Rocha Paiva, figura conhecida nos porões dos antigos Doi-Codi e
Cenimar, centros de referência na tortura e morte de prisioneiros
políticos no Brasil.
“Creio ser um assombro a luta de alguns poucos no sentido de abrirem
os olhos da sociedade! Eles serão mártires ou heróis desta luta insana!
De qualquer forma, que Deus os ilumine pela verdadeira guerra que
fazem com as armas da crítica e do esclarecimento. Se cometerem algum
erro, que tenham a certeza, ele será irrelevante no contexto do bom
combate que travam, pois seu alerta está sendo dado!”, diz o texto,
apócrifo, do “chamamento” que distribuem na web. Segundo os
organizadores, policiais alinhados à extrema direita, integrantes de
clubes de serviço que, na época da ditadura, apoiaram o regime militar,
membros do grupo fascista Tradição, Família e Propriedade (TFP) e maçons
que apoiaram o regime imposto pela força das armas deveriam ser
convocados para comparecer ao Clube Militar.
Na mensagem, ditam como cada um dos ex-integrantes das Forças Armadas
deveria atuar, na busca de mobilizar alguns incautos para uma reação à
Comissão da Verdade.
“1 – Para tirar cópia do chamamento (…) na copiadora – 15 minutos.
Quem preferir gastar alguns centavos, tire cópias no comércio local e
distribua pelo menos nas caixas de correspondência de seus edifícios.
“2 – Quantos parentes sem e-mail já foram contatados pelo telefone? – 30 minutos;
“3 – Já telefonaram ou passaram e-mails para os conhecidos das (sic) polícias militares? – 15 minutos;
“O “LIONS” e o “ROTARY” da cidade já estão por dentro da campanha, telefonema ou e-mail? 10/15 minutos;
“4- A “loja maçônica” da cidade já está por dentro da campanha, telefonema ou e-mail? – 10/15 minutos”.
A mensagem, sem nenhuma assinatura, em tom de ameaça, alega ainda que
os antigos militares não podem “entregar o ouro ao bandido vermelho, de
graça”, talvez em referência à ação guerrilheira do Partido Comunista
do Brasil e de outras vanguardas revolucionárias da resistência, que
terminaram por determinar o fim da ditadura no país, com o apoio de toda
a sociedade civil. Ainda segundo o texto, “depende das comunicação que
vocês lograrem, por e-mail ou telefone, com os “LlONS’, ‘ROTARY’, ‘lojas
maçônicas’, ‘TFP’ e assemelhados”, sem citar o que seriam estes
últimos.
Sem dentes
Para alguns dos organizadores da manifestação, convocada pelas redes
sociais em uma mensagem transmitida, por vídeo, pelo cineasta Silvio Tendler,
essas “manifestações malucas que circulam pela internet” não significam
um perigo real para a realização do ato convocado para as 14h, em
frente ao Clube Militar, na Avenida Rio Branco, nesta quinta-feira.
– São leões sem dentes. Rugem, fazem barulho, mas já não mordem mais
ninguém – concluiu um dos ativistas, que prefere não se identificar
“para não jogar mais lenha na fogueira”.
Procurado pelo CdB, o presidente do Clube Militar, general aposentado Renato Cesar Tibau da Costa, sequer respondeu às ligações.
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