Brilhante artigo de Artur Henrique, atual presidente nacional da CUT. Nele fica muito claro os princípios e objetivos que nortearam a construção da CUT e alimentaram muitas de suas lutas. Lendo o artigo me vi em vários debates e discussões realizados sobre esse tema e percebi registrado tudo o que defendi há alguns anos atrás. Parabéns ao amigo e sindicalista Artur.
Presidente da CUT mostra as razões para a reforma do sistema
de financiamento sindical brasileiro, como forma de fortalecer a luta
pelos direitos dos trabalhadores
Este texto foi publicado originalmente no blogue de Artur Henrique, presidente da CUT
Novamente
em evidência, o debate sobre mudanças na estrutura sindical
brasileira vai explicitando algumas posições e revelando
incoerências. Alguns
dizem, através de textos publicados na internet, que a defesa que a
CUT faz do fim do imposto sindical, e sua substituição por uma
contribuição que deverá passar pelo crivo dos trabalhadores, é o
mesmo posicionamento dos patrões. Os
fatos, porém, desmentem essa versão.
A
maioria das entidades patronais tem a mesma posição das demais
centrais sindicais de trabalhadores. Prova disso veio a público no
dia 21 de novembro do ano passado, durante audiência na Comissão de
Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos
Deputados. Naquela ocasião, as representações patronais
colocaram-se contra o fim do imposto sindical e contra a criação da
contribuição sobre negociação coletiva. Foi um tocante momento de
unidade entre patrões e certos sindicatos de trabalhadores.
O
leitor pode conferir este episódio clicando
em http://migre.me/8qLLF.
As
entidades patronais (que são sindicatos) também recebem dinheiro
que é descontado compulsoriamente das empresas que estão em sua
base territorial. Não importa se os proprietários de uma
lanchonete, de um bar, de uma fábrica ou loja achem que a entidade
não faz nada para defendê-los, o dinheiro é recolhido.
Mas
o Plebiscito sobre o Fim do Imposto Sindical, que a CUT está
realizando em todas as regiões do Brasil desde a segunda, dia 26 de
março, certamente mostrará, em consulta direta aos maiores
interessados no tema, o trabalhador e a trabalhadora, que a maioria
está conosco.
Muito
já falamos sobre isso, mas não custa relembrar: somos contra o
imposto porque essa taxa enche os caixas de todo e qualquer
sindicato, mesmo daqueles que nada fazem pelo trabalhador e em cujas
estruturas alguns dirigentes se perpetuam. Como o trabalhador paga
sem muitas vezes nem saber qual o sindicato que diz o representar,
esses sindicatos nunca ouvem suas bases e jamais debatem os rumos de
sua atuação com aqueles que os sustentam.
Fala, trabalhador
Quando
dirigentes de outras centrais dizem que permitir ao trabalhador
escolher em qual sindicato militar e como contribuir financeiramente
para a entidade é uma opção “neoliberal”, deixam entrever o
verdadeiro raciocínio que os move: os trabalhadores não precisariam
ser consultados, basta que acreditem piamente na boa-fé dos
sindicatos e deixem para alguns dirigentes iluminados a tarefa de
conduzi-los na luta política e na luta de classes. Nada
mais falso.
Quando
participam da vida dos sindicatos, através das organizações nos
locais de trabalho e nas atividades de mobilização que as entidades
realmente atuantes realizam, os trabalhadores e trabalhadoras vivem
um processo formativo, para muitos deles de iniciação na vida
política e de despertar para a luta por mais direitos. Dentre esses
companheiros, muitos deles se tornarão novas lideranças e a imensa
maioria, atores conscientes que levarão o debate para diferentes
espaços.
Por
outro lado, se apenas as cúpulas sindicais decidem a pauta das
mobilizações, sem ampla consulta às bases através de assembleias
e reuniões nos locais de trabalho, a estrutura vai paulatinamente se
enrijecendo.
Entidades
realmente representativas, que fazem parte do cotidiano dos locais de
trabalho onde estão seus representados, não têm o que temer com o
fim do imposto sindical. Ao contrário, ganharão mais aliados,
aumentarão seu número de filiados e terão mais poder de fogo no
enfrentamento e nas negociações.
Alguns
sindicatos podem passar por períodos de adaptação à mudança, mas
se realizam o bom combate, vão posteriormente crescer e se
fortalecer.
Não
querendo me deter mais longamente nesse ponto do debate, destaco
apenas que articulistas, em nome de outras centrais, criticam o fato
de hoje a representatividade sindical ser medida a partir do número
de pessoas filiadas voluntariamente às entidades. Ora, nada mais
revelador: para eles, sindicato sem filiado deveria ter o mesmo valor
de sindicato que conquista militantes.
Unicidade
Outro
argumento enganoso utilizado por quem se opõe a mudanças na
estrutura sindical é de que a unicidade sindical é fator de
fortalecimento da luta. Pelo conceito de unicidade, apenas um
sindicato pode atuar em nome de uma categoria de determinada base
territorial.
O
fim da unicidade, dizem seus defensores, fragmentaria a classe
trabalhadora. Pode
até parecer verdade, mas não é.
Aproveitando-se
da unicidade, muitos sindicatos mantêm um estatuto antidemocrático,
que não permite a participação de chapas de oposição nos
processos eleitorais que definem a direção da entidade. Assim,
torna-se impossível o debate sobre os rumos da entidade e a
definição de sua agenda. Muitos dirigentes, encastelados nessa
estrutura, permanecem décadas na presidência e, ao final de seus
longos mandatos, entronizam em seus lugares parentes ou aliados
incondicionais.
Com
tamanha tranquilidade e conforto, o sindicato se afasta das lutas
diárias e quem perde com isso são os trabalhadores, que não tem a
quem recorrer.
Fragmentação
Ao
contrário do que dizem seus defensores, a unicidade é um dos
principais fatores de fragmentação do movimento sindical
brasileiro. Como um único sindicato paira como um totem em
determinado espaço, vários sindicatos satélites são fundados na
mesma base territorial, mas sem representatividade. Para isso também
contribui a existência do imposto sindical, sempre uma tentação
para que novas entidades sejam fundadas e se tornem fonte de renda
garantida.
Relaciono
alguns entre os muitos pedidos de registro sindical feitos ao
Ministério do Trabalho neste mês de março, para ilustrar essa
fragmentação: Sindicato dos Profissionais de Educação Física do
Estado do Pará; Sindicato dos Vaqueiros do Estado do Piauí;
Sindicato das Empresas de Agenciamento de Transporte Individual sobre
Duas ou Três Rodas do Estado de São Paulo; Sindicato dos
Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão, Televisão, Estúdios
Fotográficos, Produtoras de Áudio e Vídeo de Santa Cruz e Região.
Por
que criar um sindicato de professores de educação física, quando
fortalecer o sindicato de todos os professores, mais representativo e
amplo, é bem melhor? Por que um sindicato dos vaqueiros, se temos
sindicatos de trabalhadores rurais que representam toda a cadeia
produtiva da agricultura? Para profissionais de comunicação, muito
mais combativo são o sindicato dos jornalistas e o sindicato dos
radialistas. Essa linha de questionamento pode se estender bastante,
tamanha a quantidade de sindicatos como esses que pleiteiam registro
e autorização de funcionamento.
Combinados,
a unicidade e o imposto sindical provocam situações como essas que
vimos acima.
Para
a CUT, o melhor é construir sindicatos fortes por ramo de atividade
e que representem todas as categorias que atuam nesse ramo. E que em
seus estatutos prevejam a oportunidade de oposição nas eleições.
Sem citar nenhum nominalmente, posso garantir que a CUT tem
sindicatos que representam todos os trabalhadores que atuam em
determinado setor – secretárias, manutenção, vigilantes,
operários, pessoal administrativo – e em nome de todos organizam e
realizam as campanhas salariais e cuidam da demanda diária, apesar
de haver, na mesma base, sindicatos satélites como esses, que nada
fazem e que ao final das campanhas querem receber uma parte da
conquista pela qual nada fizeram.
Essa
realidade, vivida por esses sindicatos, descarta outro argumento
falacioso dos que defendem a unicidade. Alguns deles dizem que um
sindicato sem imposto sindical e sustentado unicamente pela
mensalidade dos sócios e pela contribuição sobre a negociação
coletiva acabaria por representar apenas os filiados. Imensa bobagem.
Quando um sindicato realiza uma campanha salarial ou briga por um
benefício, os resultados são estendidos a todos os trabalhadores
daquele setor ou empresa. E a contribuição sobre a negociação
coletiva será aprovada (ou não) por assembleias abertas a todos,
inclusive não filiados.
Sindicatos
assim organizados não pleiteiam a unicidade, pois não precisam
dessa proteção. Se alguém quiser montar chapa de oposição ou
mesmo um outro sindicato na mesma base, que o faça. O trabalhador e
a trabalhadora tem discernimento para reconhecer quem trabalha a seu
favor. Por isso merecem o direito de escolher. E é essa
representatividade que garante quem vai representar os trabalhadores.
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