15 de março de 2012
Revolta síria completa um ano e governo mata sob tortura
Sem data para acabar e com o ditador Bashar al-Assad disposto a se
manter no poder a qualquer custo, a revolta popular síria, já
considerada guerra civil, completa, nesta quinta-feira (15), seu
primeiro aniversário.
Para protestar contra a corrupção e exigir democracia e liberdade
civil, cidadãos sírios foram hoje às ruas da pequena cidade de Deraa (foto),
O movimento de protesto foi chamado Marcha pela Dignidade. E se
multiplicou — trocado o nome para Dia da Raiva Nacional — por outras
localidades, em especial pela cidade de Hama, símbolo da resistência.
Nela, em 1982, o sanguinário ditador Hafez al-Assad, pai do atual
presidente Bashar al-Assad, promoveu um grande massacre diante de
protestos de civis e destruiu, com tratores, quase todas as casas da
cidade.
A reação determinada por Bashar al-Assad, que emprega até mercenários (shabiha), resultou em guerra civil, com 7.500 civis mortos neste primeiro ano e 230 mil refugiados. Dados das Nações Unidas.
Um levantamento da Anistia Internacional, iniciado em fevereiro com
base em entrevistas feitas com refugiados sírios que ingressaram na
Jordânia, confirmou o uso sistemático de tortura contra os rebelados. E
as tropas de Assad usadas na repressão contam com licença para matar.
Até agora, 276 líderes rebeldes foram torturados até a morte. O cárcere de Palmira, no deserto, é empregado para torturar os rebeldes identificados como líderes.
Segundo levantamentos de operadores da área de direitos humanos, 31
métodos cruéis de tortura são empregados pelos órgãos de inteligência da
Síria.
Os 007 da Síria torturam, e dão preferência a choques elétricos, para obter informações usadas para a eliminação de lideranças.
No início da revolta, Bashar al-Assad defenestrou o primeiro-ministro
Muhammad Naji, detestado pelo povo. Como a revolta popular prosseguiu,
Bashar al-Assad prometeu flexibilizar o Estado de Emergência decretado
em 1963 pelo seu pai, o ditador Hafez al-Assad. Quando o Estado de
Emergência foi decretado, o atual ditador ainda não era nascido.
No momento, o sanguinário Bashar al-Assad fala, em discurso voltado à
comunidade internacional, em eleições livres em maio para a renovação
do Parlamento da Síria.
Os Assad estão no poder desde o golpe militar de 1971. Uma minoria
alauita (um ramo islâmico xiita) instalada no partido Baath (partido
nacionalista árabe e de inspiração socialista), cujo líder era Hafez
al-Assad, controla o Exército.
A propósito, a Síria conseguiu a sua independência em 1946 e por três
anos (1958-1961) uniu-se ao Egito e ao Iêmen, formando a República
Árabe Unida. Em 1963, por um golpe militar, os membros do partido Baath
assumiram o poder.
Com a derrota em 1970 para Israel na chamada Guerra dos Seis Dias, a
minoria alauita, liderada pelo general Hafez al-Assad, promoveu um novo
golpe.
Hafez morreu de câncer em 10 de junho de 2000 e deixou como sucessor o
filho, que estudava oftalmologia em Londres: o preferido pelo pai
morreu em acidente automobilístico.
Bashar ainda se mantém no poder com apoio do Exército e de uma força
paramilitar controlada por seu irmão, estimada em 8 mil homens. Ele tem à
disposição, para usar como imagem a revelar que conta com apoio
popular, um grupo móvel e treinado para aplaudi-lo. O grupo é conhecido
por Mnhebbak, que em árabe significa “nós te amamos”.
Não se deve esquecer que os Assad sempre se sustentaram numa minoria
religiosa alauita, do ramo xiita. No país, a religião conta
politicamente: os sunitas representam 74%, os xiitas, 12%, os cristãos,
5,5% e os drusos, 3%. Quanto aos grupos étnicos, os árabes representam
82%, os curdos, 7,3%, e os armênios, 2,7%.
No Conselho de Segurança das Nações Unidas, a China e a Rússia mantêm
a ditadura sanguinária de Bashar al-Assad, que vai usar a eleição de
maio, já anunciada com odor de fraude, para dizer que o seu governo
conta com aprovação da maioria.
Para muitos analistas internacionais independentes, para Israel, por
incrível que possa parecer (Bashar é ligado ao Irã e ao libanês
Hezbolah) interessa a manutenção de Bashar.
Pano rápido. Israel, para usar um conhecido ditado popular inglês, prefere o diabo conhecido a outro desconhecido.
Wálter Fanganiello Maierovitch
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