domingo, 22 de agosto de 2010

Folha - Vergonha do Jornalismo

Do Luis Nassif


Na reunião da ANJ (Associação Nacional dos Jornais), José Serra denunciou os tais "blogs sujos" que recebem dinheiro do governo.

Aí a Folha saiu à procura de material para seguir a pauta. Procurou, procurou e, após um trabalho minucioso, achou a Lanza Comunicação, do Luiz Lanzetta, que faz o boletim "Brasilia Confidencial".

Consegui, em primeira mão, a maneira como a Folha obteve esse furo.

O diretor de sucursal recebeu a pauta de São Paulo. Chamou o repórter Silvio Navarro e entregou-lhe a pauta. Naquele momento, estavam acertando os ponteiros na sede da sucursal do jornal, no oitavo andar do Edifício Centro Empresarial Norte, de Brasília.

Planejaram a cobertura, pensaram estrategicamente a pauta. Aí, o repórter Silvio Navarro saiu resolutamente no corredor e avançou alguns metros. Passou pela porta da sucursal do jornal Valor Econômico. Pensou, seria aqui? Provavelmente não, já que o Valor é um jornal econômico que tem a Folha como sócia.

Levou algum tempo para planejar os próximos passos. Mas, seguindo o roteiro previamente traçado, avançou mais alguns metros e encontrou uma segunda porta com a placa: Lanza Comunicação. O plano estratégico estava bem sucedido. Ali se escondia o blogueiro sujo, a poucos metros da sala da Folha, no mesmo andar.

Lá se encontrava o "blogueiro sujo", Lazetta e o jornalista Robson Barenha, que devem sair para almoçar de vez em quando com os próprios jornalistas da Folha, nos sujinhos e restaurantes da região.

Bateu na porta e deve ter perguntado se ali era a redação do Brasilia Confidencial. Se perguntou, o pessoal deve ter respondido: ficou louco? faz anos que habitamos o mesmo andar.

É isso o que você leu, sim. O escritório do Brasilia Confidencial fica no mesmo andar da sucursal da Folha e os jornalistas sabem há anos dos trabalhos de Lanzetta, trabalho normal de assessoria, devem sair para almoçar ou beber semanalmente.

Recebem a pauta, sem conseguir cumpri-la transformam o vizinho no alvo. Como se tivesse havido grande trabalho investigativo.

Mais uma vez, a pauta é transformada em matéria com chamada de primeira página.

Da Folha
Pivô de dossiê distribui boletim pró-Dilma

Acusado de propor documento contra Serra, Lanzetta abastece veículos de comunicação com material antitucano

PT nega relação com empresa, que deixou campanha após caso do dossiê; Lanzetta não respondeu a contatos

SILVIO NAVARRO
DE SÃO PAULO

Envolvido na negociação de um dossiê contra José Serra (PSDB), o dono da Lanza Comunicação, Luiz Lanzetta, abastece veículos de comunicação de todo o país com conteúdo pró-Dilma Rousseff (PT) e contra o tucano.

Pelas contas da empresa, o material é distribuído diariamente a 556 mil e-mails e reproduzido por 250 sites.

A Lanza entrega gratuitamente o conteúdo do boletim "Brasília Confidencial", que é reproduzido por sites de partidos aliados do PT, simpatizantes de Dilma, centrais sindicais, jornais e rádios.

Também é usado pela rede de mobilização comandada por Marcelo Branco, responsável pela campanha de Dilma na web. Até explodir o caso do dossiê, o site oficial de Dilma usava o conteúdo.

O "Brasília Confidencial" funciona na sede da Lanza em Brasília. No Registro.br, o cartório eletrônico na internet, o domínio da marca é da Lanza. O nome de Lanzetta, acusado de ter proposto dossiê contra Serra -ele nega-, não aparece no boletim.

Quem responde pela chefia é o jornalista Robson Barenho, sócio de Lanzetta em outros negócios com o governo. Ele, que integrava a campanha petista, mas caiu na esteira do dossiê, não quis dizer quem financia o site.

SERVIÇO
O serviço foi criado no segundo semestre de 2009, mas ganhou força e multiplicou o alcance simultaneamente à assinatura do contrato entre a Lanza e o PT para a campanha de Dilma.

O contrato foi rompido em junho após o surgimento das denúncias, e a campanha de Dilma afirma não ter mais vínculo com a Lanza.

No "Brasília Confidencial" também são divulgadas ações do governo, inclusive reprodução de banner do Ministério da Saúde para campanha de vacinação. Lanzetta presta serviços ao ministério por meio de outra empresa, a L2 Projetos e Participações (leia texto ao lado).

A Secretaria de Comunicação da Presidência nega ter pago pelos serviços da Lanza. Também diz que não repassou recursos de publicidade ao site.

Procurados pela Folha, Barenho se recusou a comentar e Lanzetta não respondeu aos telefonemas.

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