domingo, 15 de agosto de 2010

O Tiro Saiu Pela Culatra

A capa que tentou macular vira símbolo na internet
 Do Tijolaço

O que os nossos grandes grupos de comunicação fazem, muito frequentemente, não é jornalismo. É campanha política. Seria totalmente legítimo, se o assumissem. Mas fingem uma neutralidade que não existe e, por isso, são cínicos.

Não param por aí, porém. São covardes, porque buscam descontextualizar a informação, como se aquilo que ocorreu sob um regime bárbaro, onde pessoas eram torturadas sadicamente, onde eram levadas à loucura e à morte. É isso o que faz a revista Época, na edição desta semana. Liga, sem qualquer elemento concreto, Dilma às ações armadas que ocorreram como resposta àquele regime. Litam um quadro de “perguntas sem resposta” que chega ao esmero de perguntar se Dilma estava armada no momento de sua prisão e se apoiou as greves operárias na região de Belo Horizonte em 1968.

Dilma fez muito bem em não responder à revista. Entrevistas à Época e à Veja deveriam ser precedidas daquele aviso que a gente vê nos filmes policiais americanos: “tudo o que você disser poderá e será usado contra você”.

Ontem, Dilma deu em coletiva a resposta curta e seca que esta exploração merece:

“Nem um pouco temo ataques da oposição. Tenho muito orgulho de ter lutado contra a ditadura, do primeiro ao último dia. Acho que aqueles que lutaram contra a ditadura são pessoas que tiveram, pelo menos na minha geração, a generosidade de enfrentar inclusive a morte. Não estávamos lutando se correr risco de vida. Fui torturada durante 22 dias. Não há controle na tortura. Não era um momento em que a democracia vigia no País. Não participei de ação armada e sequer fui julgada por isso e sequer fui condenada”.

A resistência teve muitas formas, para os que puderam ficar. Mas foi, esse é o nome, resistência, porque a agressão às intituições, com a derrubnada de um governo legítimo, a cassação dos direitos de expressão e de voto, os assassinatos, as prisões e o exílio foram ações que partiram do regime contra o qual aqueles jovens e a geração de meu avô, antes, se insurgiu como pôde.


A matéria da revista e sua capa, destinada a tornar-se um cartaz eleitoral negativo, como fez, ao inverso, a capa da Veja com o “cândidoJosé Serra que estampou, dois meses atrás, em sua capa. O passado de esquerda de Serra não pode ser lembrado, porque é a prova de que ele renegou e “matou” aquele Serra que só interessa a ele lembrar para dizer que veio de uma família pobre.

O tiro, porém, lhes saiu pela culatra. Embora um ou outro incauto possa se impressionar, os mais lúcidos e esclarecidos vão percebendo que, do que vem dali nada é água limpa, tudo está envenenado pelos interesses políticos de uma parte da elite que não se incomoda senão com seus próprios privilégios.

O desenho de Dilma, que pretendiam ameaçador, ficou ótimo, revelando que a Dilma de hoje em lugar de renegar, carrega em si o inconformismo que, geração após geração, tenta fazer do Brasil um país  para seu povo.

E juventude não é idade, é desejo de construir sonhos.

2 comentários:

  1. Assino embaixo. Infelizmente parece que lutar contra a opressão parece doença contagiosa, mas facilitar o crime organizado, jogar polícia p/ cima de trabalhadores, fechar os olhos as clinicas clandestinas que praticam abortos e matam mulheres e cças não tem problema. Mesmo que a companheira tenha desarticulado sua luta e mudado o rumo de seus princípios tem uma história que ninguém tem o direito de tentar apagar ou desvirtuar sua importância p/ época.
    Viva os revolucionários que não se envergonham de seu passado e continuam acreditando que é possível no presente construir um futuro no qual ninguém não haja espaço p/ a desigualdade, o preconceito e a injustiça.

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  2. Cada um luta com as armas que tem. Nossos lutadores do passado e alguns do presente, são explícitos em suas lutas, na busca de uma sociedade melhor. Seja no movimentos socias, nos sindicatos, pastorais e partidos de esquerda, não há o que esconder. Porém, a direita, que tenta se fazer de cordeirinho, usa essas armas implicitas. A mídia, o cabresto e outras formas, que as vezes enganam até muitos de nossos companheiros. É a eterna guerra, armada sim, só que com as armas do momento.
    Um abraço e sucesso
    Claudinho Nascimento

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