Relator-geral
do Orçamento no Congresso, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) sofreu
pressões de todos os lados. Mas conseguiu aprovar um relatório
preliminar sem estabelecer valores ou percentuais para reajuste do
Judiciário e das aposentadorias — que serão negociados pelo Executivo.Ou
seja, mantendo ao máximo a política de ajuste fiscal.
O relatório preliminar trouxe, no entanto, uma grande inovação: a criação das chamadas emendas de iniciativa popular.
Chinaglia
reservou R$ 2,6 bilhões do Orçamento da União — que totaliza R$ 1,6
trilhão — para serem distribuídos entre os municípios de até 50 mil
habitantes. São 4.953 cidades que abrigam 60 milhões de brasileiros e
receberão entre R$ 300 mil e R$ 600 mil (veja a lista aqui).
A
indicação da aplicação destas emendas será feita em audiência pública
nas câmaras de vereadores, com participação da Prefeitura e da
população. A emenda deverá ser enviada por Sedex à Comissão de
Orçamento, com data de postagem até o dia 10 de dezembro.
No
parecer original, Chinaglia havia proposto um conjunto de ações que
poderiam ser financiadas por essas emendas. Mas os líderes partidários e
os membros da comissão decidiram que essas emendas só podem destinar
recursos à saúde. Se não houver reunião nos municípios, o dinheiro vai
para a saúde básica.
Em entrevista ao Poder Online,
Chinaglia afirma, no entanto, que o aumento de verbas para a saúde não
acaba com a necessidade de aprovação da chamada Emenda 29, que
estabelece um limite mínimo de recursos a serem aplicados na área de
saúde.
Poder
Online — Essa proposta de emenda de iniciativa popular ao Orçamento é
quase aquela ideia da renda básica da cidadania que defende o senador
Eduiardo Suplicy (PT-SP). Mas voltada para os municípios e não para o
indivíduo. As pequenas cidades passam a ter direito a emendas do
Orçamento, mesmo sem padrinhos políticos. Isso não gerou muita
resistência?
Arlindo Chinaglia –
Gosto dessa comparação: uma renda básica da cidadania para os
municípios. De fato, é uma forma de democratizar as emendas do
Orçamento. Mas eu não diria que gerou tanta resistência, até porque foi
aprovada.
Poder
Online — Mas sua proposta original era que os municípios decidiriam
onde aplicar as emendas e, para aprovar o relatório, o senhor teve que
ceder.
Arlindo Chinaglia –
Faz parte da negociação política. O que importa é que estamos abrindo o
caminho para os cidadãos de cada município se reunirem e discutirem o
Orçamento. Isso vai aumentar até mesmo o entendimento sobre o nosso
papel aqui no Congresso, quando discutimos emendas ao Orçamento. E
acabou ficando acertado que os recursos da emenda de iniciativa popular
vão para a área de saúde, o que é um excelente começo.
Poder
Online — Essas emendas de iniciativa popular destinam mais R$ 2,2
bilhões para a saúde em 2012. Somando-se aos R$ 1,8 bilhão acrescidos às
emendas dos parlamentares também para essa área, a saúde ficou com R$
83 bilhões. Dá mais dos que os R$ 79 bilhões estabelecidos pela chamada
Emenda 29, se ela for aprovada pelo Congresso. Seu relatório é uma forma
de não precisar mais da Emenda 29?
Arlindo Chinaglia –
De forma alguma. Continuo defendendo a aprovação da Emenda 29.
Primeiro, porque esses R$ 83 milhões dependerão da execução
orçamentário. Se o governo não quiser, não executa. Já a Emenda 29
estabelece um mínimo a ser executado, e ainda garante a origem dos
recursos. O Brasil precisa cuidar da saúde de seu povo. Há carências
enormes nessa área que ainda precisam ser cobertas. E meu relatório não
se choca de modo algum com a Emenda 29. Eu diria que são coisas
complementares.
Poder Online — E a questão macroeconômica? Com que parâmetros o sr. pensou o Orçamento de 2012. Como estará o país?
Arlindo Chinaglia –
Usei números do próprio site do Banco Central, que estimava uma
inflação de 6,2% para 2012. Se for assim, o salário mínimo deve ficar em
R$ 622,20. Não cheguei a analisar, no relatório, a crise internacional.
Mas creio que esta crise deve perdurar, e é natural que o mundo todo
sofra com ela. Mas creio que os países emergentes, os BRICs (Brasil,
Rússia, índia e China), sofrerão menos do que a Europa, por exemplo.
Então, tenderemos a aumentar nossa fatia no comércio internacional.
Poder Online — O sr. aumentou a previsão de arrecadação?
Arlindo Chinaglia –
A Comissão aprovou o relatório de reestimativa da receita da União que
elevou a arrecadação em R$ 26,1 bilhões, totalizando, em termos
líquidos, R$ 937,8 bilhões, contra R$ 911,7 bilhões previstos
inicialmente pelo Executivo na proposta orçamentária.
Poder
Online – Pois é. Sempre ocorre isto. O governo manda uma estimativa, o
Congresso aumenta e, depois, o governo contigencia, ou seja, não aplica
tudo que o Congresso determinou.
Arlindo Chinaglia –
É… Primeiro, porque o governo fecha seus cálculos no meio do ano e o
Congresso, mais para o final. Depois, porque faz parte do jogo: o
governo sempre quer segurar os gastos, daí trabalhar inicialmente com
uma arrecadação menor. Mas, historicamente o Congresso tem acertado
mais.
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