Do Tijolaço
O vazamento de verdade e a "pesca de sardinhas" da Chevron. Imagem e versão aceitas sem contestar |
Passamos uma semana discutindo se o avião era Sêneca ou King Air. Se o
Carlos Lupi conhecia o “Senhor Aldair” ou se não o conhecia. O “eu te
amo” do Ministro e outras histrionices canhestras que produziu ocuparam
minutos e minutos nas redes de televisão e legiões de repórteres foram
mobilizadas para levantar cada pormenor de sua atuação.
Muito bem.
Nada contra a imprensa mobilizar todos os seus esforços e abrir todos
os seus espaços para investigar irregularidades no serviço público,
ainda que não tenha esteja evidente senão um comportamento pouco
cuidadoso e austero de sua parte.
Dia 10, quando toda a mídia nacional se voltava para o depoimento do
Ministro na Cãmara, uma pequena nota da Agência Estado registrava:
“A unidade brasileira da petroleira norte-americana Chevron
informou que está trabalhando para conter um vazamento no campo Frade,
na Bacia de Campos. “O vazamento se deve a uma rachadura no solo do
oceano. É um fenômeno natural”, disse Heloisa Marcondes, porta-voz da
Chevron Brasil. “
Nos dias seguintes, toda a imprensa nacional empenhou-se a fundo para provar que o Ministro mentira.
E ninguém se mobilizou para saber o tamanho e a causa do vazamento da
Chevron e a investigar o que se provou uma mentira – e escandalosa – da
Chevron.
Ninguém da grande imprensa, porque a blogosfera, sem os meios e as facilidades que ela tem, lutou contra este encobrimento.
Não é possível que os editores de jornal, diante da notícia de que a
Presidenta Dilma Rousseff, na sexta-feira, determinou uma investigação
rigorosa do caso, achassem que o acidente era uma “porcariazinha” que
vinha de “uma rachadurazinha” no fundo do mar.
Não foi, nos primeiros momentos, por ordens “de cima” que o caso
foi, na prática, abafado. Foi, o desinteresse – e existiria furor se
fosse o vazamento fosse da Petrobras - que deriva de uma deformação
mental que considera o público necessariamente corrupto e incompetente,
enquanto o privado é limpo e eficiente. Mais ainda, é claro, quando se
trata de uma grande multinacional.
Formou-se uma espécie de “mancha mental”, com uma capa impermeável de
obtusidade, que aceita como verdades incontestáveis o que dizem as
grandes corporações privadas e a lógica do mercado. Nem mesmo as ONGs
ambientalistas, na sua maioria, se agitaram. A imprensa publicava
“releases”, nada mais.
Durante dias, sem piar, reproduziram-se os comunicados da Chevron,
sem contraditório. A foto (única) do vazamento distribuída pela Chevron e
a tirada hoje pela fotógrafa Márcia Foletto, de O Globo, mostra bem a
diferença entre os faos e a versão da empresa.
Aliás, a Chevron não deu a mínima nem para a imprensa, nem para o Ibama e nem para a ANP.
Não ficaria supreso que seus funcionários tenham ficado sentados na sala de espera, aguardando para serem atendidos.
Aliás, o panorama só mudou porque entrou a Polícia Federal na história.
É curioso – e ao mesmo tempo terrível – que estejamos vivendo tempos
de dupla moral e ética. Ao Estado e seus agentes – corretamente – é
exigido um comportamento exemplar. Aos grandes grupos privados muito
mais poderosos, é o vale tudo.
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