Do Correio do Brasil
11/11/2011 16:55,
Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro
A divisão dos royalties do petróleo, no Brasil, ao invés de se
tornar uma demonstração de cidadania, de fraternal solidariedade entre o
mesmo povo, pois somos todos brasileiros, derrapa à beira do
despenhadeiro da secessão. A manifestação chapa-branca promovida, na
véspera, pelo governo do jornalista Sérgio Cabral Filho, no Centro do
Rio, demonstra mais o espírito do enfrentamento entre cães diante o
butim à saudável discussão sobre a riquíssima jazida de recursos
minerais descoberta há pouco.
Uma discussão dessa envergadura, de forma alguma, deveria ocorrer no
calor das ruas, sob as bravatas encrustadas em discursos vãos. Por se
tratar de um volume tão acentuado de benefícios, seu aproveitamento pela
nação brasileira seria mais bem debatido em um ambiente como o
Parlamento onde, de fato, ocorrerá a decisão para o bem do país. Não
será aquele ajuntamento de funcionários públicos dispensados de seus
afazeres e patrocinados pela dinheirama do erário, atirada ao ralo do
desperdício em passagens subsidiadas de ônibus, trens e metrô, capaz de
mudar o rumo da prosa em Brasília.
O dever de casa deveria ter sido feito anteriormente pela mesma
administração que ora tenta, de afogadilho, prestes a morrer na praia da
inconsistência jurídica, alterar o dispositivo legal, aprovado na
Câmara e, possivelmente, no Senado, que lança mão do petróleo produzido
nas costas brasileiras para um fundo a ser dividido entre todas as
unidades da Federação. Levar um monte de gente para frente de um
palanque que melhor seria um palco de vaidades, bonificado com um show
de pagode logo depois, há muito não significa coisa alguma para a
seriedade exigida neste assunto. Nem como jogo para a plateia serve
mais.
Diante a Emenda Ibsen, que pretende a distribuição igualitária dos
recursos apurados com o comércio do petróleo entre todos os Estados
brasileiros, levantam-se questionamentos que os ministros da Corte
Suprema, certamente, precisarão aclarar. Ao julgamento dos demais
recursos parlamentares em curso, compete o diálogo e a defesa dos pontos
de vista da forma democrática, muito distante da mania de falar mais
alto. Esta é a típica discussão que não se leva no grito. A única reação
possível à insensatez do governo fluminense é aquela anunciada no dia
seguinte, por 24, dos 27 Estados, de promover manifestações semelhantes,
em uma babel estorvada e de consequências dignas da bestialidade que a
deflagrou.
Mais embaraçoso do que o ajuntamento de assalariados estatais – de
proporções duvidosas e resultados iníquos – às vésperas de um feriadão,
na Cinelândia, é somente a declaração do mestre burlesco desse desatino,
que o Correio do Brasil
publica nesta sexta-feira, sobre a certeza dele de a presidenta Dilma
Rousseff vetar este ou aquele artigo do projeto de lei sobre a divisão
dos royalties do petróleo, ainda em discussão entre os senadores.
Trata-se, é evidente, de uma nova saia justa à primeira mandatária,
semelhante a outra, não faz muito tempo, quando o próprio nomeou seu
secretário de Saúde para ministério equivalente. Esquece-se que não é o
dono da caneta e, de novo, coloca o Estado do Rio de Janeiro na mesma
situação ridícula que ora se encontra diante a Nação, após o lamentável
festival de fanfarronice em praça pública.
Tenham-me a santa paciência.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.
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