A questão do preconceito racial no Brasil ainda é muito forte, queiramos ou não admitir. Apesar dos grandes avanços da comunidade negra, a pesquisa abaixo mostra que as diferenças são muito grandes ainda. Ontem ouvi uma frase que a pesquisa abaixo desmonta rapidamente. Dizia o orador que os negros precisam encarar a sociedade com olhar de igualdade, sem se deixar levar pela vitimização. Enquanto postura subjetiva é uma frase bastante interessante. Mas na prática o que vemos são os resultados apontados na pesquisa abaixo.
Da Rede Brasil Atual
Exposição em Brasília marca mês da consciência negra. Dieese
mostra que inserção de trabalhadores negros é proporcionalmente maior
na construção civil e no trabalho doméstico (Foto: Fábio Rodrigues
Pozzebom/Agência Brasil)
São Paulo – Estudo divulgado nesta quinta-feira (17) pelo
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) e pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade),
de São Paulo, confirmam que prosseguem as diferenças históricas
desfavoráveis aos negros no mercado de trabalho. Na região metropolitana
de São Paulo, universo da pesquisa, a taxa de desemprego dos negros é
maior que a dos não negros (brancos e amarelos) e o rendimento é menor.
A inserção dos trabalhadores negros é proporcionalmente maior na
construção civil e no emprego doméstico, setores "em que predominam
postos de trabalho com menores exigências de qualificação profissional,
menores remunerações e relações de trabalho mais precárias e, por tudo
isso, menos valorizados socialmente", dizem os técnicos. Os negros
representam um terço da população economicamente ativa. O levantamento
foi divulgado em referência ao Dia Nacional da Consciência Negra, que se
celebra no próximo domingo (20).
"No caso específico da construção civil, a retomada de investimentos na infraestrutura e na construção de novas edificações nos últimos anos, permite identificar aumentos da proporção do assalariamento privado com carteira assinada e dos rendimentos médios que, se mantidos, podem alterar em alguma medida as características dos postos de trabalho desse segmento de atividade", afirma o estudo. Em relação ao trabalho doméstico, Dieese e Seade lembram que o serviço é normalmente feito por "mulheres negras, com idade mais avançada e baixo nível de escolaridade".
"No caso específico da construção civil, a retomada de investimentos na infraestrutura e na construção de novas edificações nos últimos anos, permite identificar aumentos da proporção do assalariamento privado com carteira assinada e dos rendimentos médios que, se mantidos, podem alterar em alguma medida as características dos postos de trabalho desse segmento de atividade", afirma o estudo. Em relação ao trabalho doméstico, Dieese e Seade lembram que o serviço é normalmente feito por "mulheres negras, com idade mais avançada e baixo nível de escolaridade".
De acordo com o levantamento, a taxa média de desemprego dos negros
em 2010 foi de 14%, ante 10,9% dos não negros. O Dieese e o Seade
informam que essa diferença vem diminuindo nos últimos anos. Do total de
ocupados, 7,4% eram trabalhadores domésticos, mas essa proporção sobe
para 10,8% entre os negros e cai para 5,7% entre os demais grupos. A
proporção de negros também é maior na construção civil (8,8% do total de
ocupados negros, ante 5% entre os demais).
No grupo "demais posições", que contempla empregadores, profissionais
universitários autônomos e donos de negócios familiares, entre outros, a
proporção de não negros é bem maior que a de negros: 9% e 3,9%,
respectivamente. "Neste último caso, dispor de riqueza acumulada que
permita montar um negócio ou possuir nível superior de escolaridade
provavelmente são os fatores que explicam a exclusão de grande parte dos
negros. Estão, portanto, muito mais associados à persistência de
elementos históricos que explicam a desigualdade presente do que a
comportamentos discriminatórios. Explicação semelhante pode ser adotada
para a sobrerrepresentação", sustenta o estudo.
Mas os números também mostram alguma redução de diferenças na
inserção dos assalariados no mercado. Proporcionalmente, os ocupados
negros estavam mais representados em relação aos empregos com carteira
(50,9%, ante 50% dos não negros). Já a proporção de assalariados negros
sem carteira era de 11,7%, ante 11% dos não negros.
Entre os autônomos, a proporção é próxima (16,5% para negros e 15,9%
para não negros). Mas a diferença sobe no serviço público: 8,4% dos
ocupados não negros estão no serviços público, ante 6,2% dos ocupados
negros. "A explicação para essa diferença possivelmente tem origem no
fato de mais da metade dos assalariados públicos possuir grau de
escolaridade superior. Essas características, associadas ao fato de que
atualmente o ingresso no setor público se dá principalmente por meio de
concursos, permitem inferir que a sub-representação de negros nesse
setor deve-se muito mais a suas históricas dificuldades de acesso aos
níveis mais elevados de ensino do que a eventuais ações discriminatórias
de que possam ser vítimas."
De acordo com o estudo, o rendimento médio por hora (R$ 8,30, na média geral) era de R$ 9,62 para os não negros e R$ 5,81 para os negros. As diferenças se revelam também no corte por gênero: homens não negros recebiam em média R$ 10,8, ante R$ 6,4 dos negros, enquanto mulheres não negras ganhavam R$ 8,1, ante R$ 5,09 das trabalhadoras negras.
De acordo com o estudo, o rendimento médio por hora (R$ 8,30, na média geral) era de R$ 9,62 para os não negros e R$ 5,81 para os negros. As diferenças se revelam também no corte por gênero: homens não negros recebiam em média R$ 10,8, ante R$ 6,4 dos negros, enquanto mulheres não negras ganhavam R$ 8,1, ante R$ 5,09 das trabalhadoras negras.
"As razões mais evidentes dessa desigualdade, em que o rendimento
médio por hora de negros (R$ 5,81) representa 60,4% do rendimento dos
não negros (R$ 9,62), residem nas diferentes estruturas ocupacionais em
que esses segmentos estão inseridos", diz o texto. "As maiores
desigualdades de rendimentos por raça/cor são verificadas nos setores em
que a proporção de não negros supera a de negros e os rendimentos
médios são mais elevados." Na indústria, por exemplo, os negros recebem
58,9% dos rendimentos dos não negros. Essa proporção vai a 59% nos
serviços, 66,4% no comércio, 70,7% na construção civil e 99,3% no
trabalho doméstico.
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