Da Carta Capital
PF investiga se Chevron tentou alcançar camada do pré-sal
A petroleira norte-americana Chevron, responsável pelo vazamento de
óleo que já dura dez dias na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, é
suspeita de tentar alcançar a camada de pré-sal no Campo do Frade. Se a
suspeita for confirmada, o episódio se revelará num dos mais
emblemáticos casos de agressão à soberania nacional promovida por uma
empresa estrangeira. A possibilidade é admitida por técnicos da Agência
Nacional do Petróleo, de acordo com reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo.
A Polícia Federal, que investiga o caso, desconfia inclusive que o
acidente possa ter ocorrido justamente devido à possível perfuração de
poços além dos limites permitidos.
Segundo a reportagem, a sonda usada pela Chevron tem capacidade para
perfurar até 7,6 mil metros, mais que o dobro do necessário para a
perfuração dos quatro poços autorizados no Campo do Frade (de até 1.276
metros de profundidade). A ANP quer saber ainda se houve falhas
inclusive na construção do poço e se foi utilizado material inadequado.
Também não se sabe se foram feitos os testes de segurança antes do
início da perfuração.
Responsável pelo inquérito, o delegado Fábio Scliar, titular da
Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF, disse na
reportagem que já existem indícios de que estrangeiros estejam
trabalhando ilegalmente no litoral brasileiro. “É algo sério. Se isso
for comprovado e esses estrangeiros em situação irregular estiverem
recebendo salários no exterior, por exemplo, já se configura crime de
sonegação fiscal e de sonegação previdenciária”, disse o delegado ao Estado de S.Paulo. A empresa nega a irregularidade.
Embora nem mesmo a Chevron saiba dizer quantos litros vazaram da
plataforma (as estimativas da ANP indicam que a vazão média de óleo
derramado estaria entre 200 e 330 barris/dia no período de 8 a 15 de
novembro), o episódio pode acelerar a discussão sobre a segurança
nacional em torno de sua principal riqueza. Na internet, começam a
surgir manifestações para que a empresa estrangeira seja expulsa do
País.
O episódio deixou clara também a situação de vulnerabilidade da
exploração de petróleo em alto mar, área onde os órgãos fiscalizadores,
como o Ibama, não conseguem monitorar de modo eficiente se as empresas
cumprem ou não as normas de segurança, conforme reportagem publicada na sexta-feira no site de CartaCapital.
A preocupação se tornou ainda maior depois da notícia de que a
empresa Transocean, que faz os trabalhos de perfuração para a Chevron no
Campo de Frade, é a mesma que operava a plataforma da British
Petroleum, que explodiu no Golfo do México, causando um dos maiores
desastres ambientais da história recente.
Apesar do retrospecto da Transocean, o presidente da concessionária
brasileira da Chevron, George Buck, disse que confia na empresa e que
continuará a operar com ela no Brasil.
A plataforma da Transocean explodiu e afundou em abril de 2010, no
Golfo do México, deixando 11 mortos e causando grandes prejuízos. Cerca
de 4,9 milhões de barris de petróleo foram derramados no mar e o
vazamento durou 87 dias.
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