Da Rede Brasil Atual
Para ex-ministro, é necessário e urgente um novo mecanismo
que oriente o trabalho e o papel da mídia, o que significa seguir o que
já está na Carta Magna do país
Franklin Marins (centro), durante debate promovido pelo PT
paulista sobre regulação da mídia do país (Foto: ©Cesar
Ogata/LinhaDireta)
São Paulo - Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação Social do
governo Lula, defende que o Partido dos Trabalhadores (PT) apresente um
projeto de lei que estabeleça um novo marco regulatório para as
comunicações, em substituição ao atual que "promove o vale tudo no
setor, desconsidera a convergência de mídia, não leva em conta que
entramos na era da sociedade da informação e, principalmente, ignora a
Constituição de 1988." As declarações foram dadas durante sua
participação no seminário sobre o tema realizado pelo diretório paulista
do PT, na capital, durante a sexta-feira (25).
Martins citou o capítulo 5 da Constituição Federal - que assegura o
acesso à informação, ao direito proporcional ao agravo, proíbe a
monopolização e a ologopolização e institui o Conselho de Comunicação
Social na forma da Lei, premissas ainda não devidamente incoporadas
pelos grupos de mídia do país - para justificar que o projeto a ser
encaminhado pelo partido excluirá completamente o controle de conteúdo. O
argumento é equivocadamente usado pelas empresas de comunicação para
tentar barrar o debate sobre a regulamentação.
"Ninguém pode ferir a Constituição. Ninguém pode engavetar a
Constituição. Devemos ter no marco regulatório a Constituição na forma
marco, na íntegra”, disse. Para o jornalista, a chamada grande mídia
apenas defende seus interesses econômicos ao opor-se à criação de regras
para a sua conduta. “O marco atual está integralmente ultrapassado e
não dá conta dos problemas atuais."
Martins citou que a convergência de mídia faz com que a radiodifusão e
as telecomunicações se confundam e exige urgentemente uma regulação
para que as teles não detenham todo o poder sobre a informação. E citou o
faturamento dessas companhias para exemplificar. “Em 2009, todas as
rádios e TVs faturaram R$ 13 bilhões, enquanto as teles, R$ 180 bilhões.
Não havendo regras, a regulação ocorre pelo mercado e aí teremos o pior
dos cenários, porque teremos um setor controlando todos os meios e todo
o conteúdo.”
Ele ressaltou também que a alegação de que estipular compromissos
fere a liberdade de imprensa, esconde o desejo de manter a concentração
do poder. “No mundo inteiro há regulação de técnica e conteúdo. Tem que
ter produção regional, nacional, independente e precisa buscar um
equilíbrio.”
Pluralismo
Renato Rovai, editor da Revista Fórum, e João Brant, da
Coordenação-Executiva do coletivo Intervozes, apresentaram um panorama
do funcionamento e regulação das comunicações nos EUA, Reino Unido,
França e Portugal. Segundo o estudo, nesses países há políticas claras
em torno de quatro princípios: pluralismo de idéias, diversidade em
todos os aspectos, proteção a direitos e concorrência.
Todas essas nações possuem agências reguladoras na área de
comunicação e todas também assumem uma série de obrigações com o poder
público expressa em um caderno de encargos disponível para consulta por
qualquer cidadão.
Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e membro da
Coordenação Executiva do Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC), Celso Schroeder, defendeu o controle público da
comunicação como forma de promover a participar popular direta na
produção da informação. “Claro que a luta contra o monopólio é
importante para democratizar a informação, mas só ampliar o número de
vozes não resolve. A região Nordeste, por exemplo, tem mais rádios
proporcionalmente do que São Paulo, mas isso não garante a diversidade.
Defendemos a construção de mecanismos transversais participativos dentro
das organizações e gestões. O novo marco regulatório deve possibilitar a
incidência da sociedade”, pontuou.
Rovai e Brant concluíram a intervenção com a apresentação de um
diagnóstico da Unesco sobre a estrutura de comunicação nacional. Segundo
a avaliação, quando há ausência de um marco regulatório claro, imperam
regras limitadas e ultrapassadas, não há competição por outorgas, o
sistema público é fraco e faltam regras sobre concentração e
propriedade. Nada que seja novidade para os movimentos sociais, a quem
cabe a responsabilidade de tomar as ruas e popularizar a defesa da
democracia.
"A sociedade civil apresentou todas as suas contribuições, o governo
agora é quem deve apresentar uma proposta. De qualquer forma, temos a
força da razão, da liberdade de expressão e da democracia ao nosso
lado", concluiu Franklin Martins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário