Do Sem Fronteiras
Na favela-bairro da Rocinha — localizada na zona sul do Rio de
Janeiro com mais de 60 mil moradores —, a organização denominada Amigos
dos Amigos (ADA) controla o tráfico de drogas ilícitas e exerce forte
influência social.
Pelo cronograma da Secretaria da Segurança Pública do Rio, a Rocinha,
dada como a maior favela do Brasil, será a próxima a abrigar uma
Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e representará um grande desafio
para os responsáveis pela atual e moderna política de segurança do Rio.
Pela primeira vez será implantada uma unidade em área dominada pelo
ADA: as anteriores foram em territórios que estavam sob controle de
facções do Comando Vermelho (CV).
A propósito, enquanto o Rio de Janeiro enfrenta a criminalidade
organizada com uma adequada política de segurança (substituiu a
militarizada e populista posta em prática irresponsavelmente pelo
governador Sergio Cabral), a do governador Geraldo Alckmin optou, com
apoio na linha neofascista da Lei&Ordem, pela perseguição a
universitários que fumam maconha no campus da Universidade de São Paulo
(USP). Isto com finalidade lúdico-recreativa (não medicinal).
Em tempo de imunidade penal pelo mundo civilizado, como se nota por
vários institutos premiais (plea bargaining, delação premiada,
pattegiamento, bagatela, remição, desassociação etc), investe-se em São
Paulo no de menor potencial ofensivo, enquanto o Primeiro Comando da
Capital (PCC), uma organização criminosa que já desmoralizou as polícias
paulistas, espalha-se e difunde o medo na periferia da capital.
Como se vem observando no Rio de Janeiro, e ficou claro na “fuga” de
covardes traficantes do Complexo Dona Marta e Alemão, a migração
deliquencial é a regra, com o anúncio do avanço da implantação das
unidades pacificadoras. Ocorre, no entanto, que os chefões deixam o
local mas mantêm microtraficantes com o objetivo de corromper os agentes
envolvidos na pacificação.
Recentemente, verificou-se que soldados do Exército foram subornados no Complexo do Alemão.
O poder econômico do tráfico proporcionou a corrupção de grande parte
das polícias fluminenses. E ex-policiais associados, com os da ativa e
do corpo de bombeiros, criaram as milícias, outra espécie de organização
do gênero crime organizado de matriz pré-mafiosa.
Na quarta-feira (9), o megatraficante Nem (Antonio Bonfim Lopes)
resolveu deixar a Rocinha e não enfrentar diretamente os policiais
destacados para a reconquista de território do Estado, e não da
delinquência. Isso pode ser indicativo da tática do ADA de não resistir
para, depois da implantação, voltar a se infiltrar e tentar dominar.
Nem, avisado da ocupação da Rocinha, tentou fugir no porta-malas de
um automóvel que acabou, por obra do acaso, selecionado para vistoria
quando em trânsito pela Lagoa Rodrigo de Freitas.
O espantoso, como verificado na véspera, é que comboios de policiais
continuam sendo usados para transportar, com segurança, membros de
organizações criminosas. Nesta semana, cinco policiais foram presos
quando transportavam traficantes da Rocinha.
Wálter Fanganiello Maierovitch
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