Da Rede Brasil Atual
Publicado em 13/11/2011, 10:40
Última atualização às 11:10
Blindados da Marinha participaram da ação, que ocorreu sem
confrontos nem incidentes graves (Foto: Mariano Azevedo/Divulgação)
São Paulo – O coronel Alberto Pinheiro Neto, chefe do Estado Maior da
Polícia Militar do Rio de Janeiro, afirma que a ocupação da Rocinha, do
Vidigal e da Chácara do Céu, na zona sul da capital fluminense, foi
concluída na madrugada deste domingo (13) sem registro de confrontos
armados. A informação confirma a expectativa da Secretaria de Segurança.
A preocupação de associações de moradores e ONGs de defesa de direitos
humanos, no entanto, mantém-se com eventuais excessos nos próximos
meses, em função do padrão de ação truculento da polícia do Rio em
outras favelas.
A incursão é a primeira etapa para a consolidação da 19ª Unidade de
Polícia Pacificadora (UPP) em comunidades no estado. A data para a
instalação efetiva não foi definida, mas o governo estadual sustenta que
isso deve ocorrer em breve. As informações até o momento mesmo por
parte de associações de moradores e de lideranças comunitárias sugerem
que a operação correu sem problemas.
Durante a semana, de 20 pessoas procuradas por envolvimento no
tráfico de drogas, incluindo Antonio Bonfim Lopes, o Nem, apontado como
chefe da facção criminosa Amigos dos Amigos na Rocinha. Em função disso é
que foi tomada a decisão de iniciar a ocupação já neste domingo, porque
havia pouca possibilidade de embates graves.
A preocupação de organizações de defesa de direitos humanos é justamente com os próximos meses. Em nota divulgada
na madrugada deste domingo, 12 entidades alertam para os riscos de
excessos em função da experiência com as UPPs do Complexo do Alemão e da
Penha, na zona norte. A demanda é que os governo estadual e federal
"garantam que a ocupação policial seja feita com total respeito aos
direitos dos moradores e de suas famílias".
Diz a nota: "Há cerca de um ano, durante a ação da polícia no
Complexo do Alemão, com apoio e participação das Forças Armadas,
diversos crimes e abusos foram praticados por agentes públicos, no
exercício de suas funções. No entanto, governantes, parlamentares, meios
de imprensa e outras entidades ignoraram as denúncias feitas por
moradores e por organizações da sociedade civil, e comprovadas
posteriormente com a investigação feita pela Polícia Federal. Ainda
hoje, casos de violações de direitos cometidas por soldados do Exército
têm sido documentados no Alemão".
Os ativistas defendem a necessidade da presença das forças de
segurança públicas para assegurar a tranquilidade dos moradores e o
cumprimento das leis. Temem, no entanto, que não sejam garantidos
"direitos dos cidadãos que sempre viveram na Rocinha, e que não podem
ser tratados como criminosos". Organizações como a Justiça Global prometem monitorar os próximos passos
da ação para, caso ocorram violações de direitos humanos, denunciar o
caso.
A exemplo do que ocorreu na ocupação da Mangueira, em junho, um grupo
de 12 integrantes do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da
Defensoria Pública do Rio participou da operação. A intenção foi
monitorar eventuais excessos e garantir presença do órgão em pelo menos
três locais de apoio. O trabalho dos defensores será realizado em
conjunto ao da Associação de Moradores da Rocinha.
Ação
Veículos blindados da Marinha foram colocados em ação a partir das
4h10, com apoio de helicópteros. Às 6h, autoridades já davam por
dominado o território por integrantes do Batalhão de Operações Especiais
(Bope) e do Batalhão de Choque. Os veículos da Marinha saíram do local
às 7h30, e os acessos à região foram liberados para carros e ônibus. O
espaço aéreo, que também havia sido fechado em apoio à operação, já está
aberto.
As vias haviam sido bloqueados a partir das 2h30, conforme anunciado
no sábado (12), pela Secretaria de Segurança Pública. Foram 194
fuzileiros navais envolvidos, o maior contingente empregado em
comunidades do Rio. A Operação Choque de Paz conta com cerca de 3 mil
homens.
A única ocorrência relatada pela Secretaria de Segurança foi
derramamento de óleo em vias para dificultar a mobilidade de viaturas,
mas não impediu a passagem dos blindados da Marinha. Uma única prisão
foi realizada, ainda segundo informações oficiais, de um fugitivo do
Complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste. Motos roubadas, munição e
dinheiro foram apreendidos.
Confira a íntegra da nota
NOTA PÚBLICA SOBRE OCUPAÇÃO POLICIAL DA ROCINHA
Nós,
organizações da sociedade civil do Rio de Janeiro, manifestamos a todos
nossa preocupação com a situação que a Rocinha enfrenta neste momento.
Exigimos do Governo do Estado e do Governo Federal que garantam que a
ocupação policial de amanhã seja feita com total respeito aos direitos
dos moradores e de suas famílias.
Há cerca de um ano, durante a ação da polícia no Complexo do Alemão,
com apoio e participação das Forças Armadas, diversos crimes e abusos
foram praticados por agentes públicos, no exercício de suas funções. No
entanto, governantes, parlamentares, meios de imprensa e outras
entidades ignoraram as denúncias feitas por moradores e por organizações
da sociedade civil, e comprovadas posteriormente com a investigação
feita pela Polícia Federal. Ainda hoje, casos de violações de direitos
cometidas por soldados do Exército têm sido documentados no Alemão.
Acreditamos que todas as favelas e comunidades pobres do Rio de
Janeiro têm o direito a uma vida com segurança plena garantida pelo
Estado. No entanto, a presença estatal, obviamente, deve ser feita com o
respeito absoluto a todos os direitos dos cidadãos que sempre viveram
na Rocinha, e que não podem ser tratados como criminosos.
Estaremos atentos e não vamos tolerar:
- invasão da casa de moradores sem mandado judicial;
- abordagem policial truculenta;
- agressões, espancamentos e execuções sumárias;
- prisões arbitrárias, feitas sem qualquer prova;
- extorsão e roubo feita por grupos de policiais criminosos.
- invasão da casa de moradores sem mandado judicial;
- abordagem policial truculenta;
- agressões, espancamentos e execuções sumárias;
- prisões arbitrárias, feitas sem qualquer prova;
- extorsão e roubo feita por grupos de policiais criminosos.
Esperamos
ainda que os meios de imprensa cumpram seu dever de fiscalização da
atividade policial e façam uma cobertura que relate com fidelidade e
equilíbrio o momento delicado pelo qual as famílias que moram na Rocinha
passam, não omitindo as denúncias dos moradores nem baseando-se
exclusivamente na versão das autoridades policiais, como infelizmente a
maior parte dos veículos de comunicação procedeu por ocasião da ocupação
dos Complexos do Alemão e da Penha.
Lembramos, por fim, que não acreditamos que a paz seja alcançada
através da violência. Exigimos que a cultura da favela seja respeitada e
que os direitos a educação, saúde, moradia, entre outros, sejam
encarados como prioridade pelos governos.
As entidades e organizações abaixo assinadas estão atentas e
comprometem-se a receber e dar ampla divulgação a todas as denúncias
comprovadas, de quaisquer violações de direitos que venham a ser
cometidas na planejada ocupação.
Apafunk
Visão da Favela Brasil
Instituto de Defensores dos Direitos Humanos - DDH
Movimento Direito para quem?
Justiça Global
CDDH Petrópolis
Rede Contra a Violência
Jornal O Cidadão - Maré
TV Tagarela - Rocinha
Revista Vírus Planetário
Movimento Popular de Favelas
Rede Nacional de Jornalistas Populares - Renajorp
Visão da Favela Brasil
Instituto de Defensores dos Direitos Humanos - DDH
Movimento Direito para quem?
Justiça Global
CDDH Petrópolis
Rede Contra a Violência
Jornal O Cidadão - Maré
TV Tagarela - Rocinha
Revista Vírus Planetário
Movimento Popular de Favelas
Rede Nacional de Jornalistas Populares - Renajorp
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