domingo, 13 de novembro de 2011

Será só na Europa???

Da Carta Capital

Gabriel Bonis

Europa

‘Grupos xenófobos devem crescer ainda mais’, diz pesquisador britânico
 
Estudo de Birdwell aponta que movimentos populistas conseguem trazer cada vez mais adeptos online para o ativismo nas ruas. Foto: Demos

Os movimentos e partidos populistas, ou ultradireitistas, ganharam força na Europa Ocidental na última década por meio de discursos personificados contra, entre outros temas, a imigração e o multiculturalismo. Hoje, esses grupos avançam e conquistam adeptos divulgando sua ideologia nas redes sociais. É essa ligação quase desconhecida que o estudo The New Face of Digital Populism (O Novo Rosto do Populismo Digital, em tradução livre), realizado pela organização independente britânica Demos, analisa.

O levantamento pediu a simpatizantes de grupos populistas, que geralmente se organizam à margem da sociedade e visam representar lemas conservadores das classes menos favorecidas, de 11 países europeus para preencherem um questionário.

As mais de 10 mil respostas indicaram, segundo o instituto, o descontentamento desta parcela da população com governos, sistemas de Justiça e as elites política e financeira do continente. Aspectos semelhantes à onda de manifestações internacionais contra o neoliberalismo, liderada por jovens lembrados como “os indignados”.

“Os movimentos ‘Occupy’ [Ocupar Wall Street, por exemplo] têm semelhanças com esses grupos no sentido em que ambos são populistas, desafeiçoados das elites e advogam contra os sistemas político e financeiro”, diz Jonathan Birdwell, pesquisador sênior do Demos e um dos autores do estudo, em entrevista a CartaCapital.

No entanto, as similaridades entre os grupos resumem-se apenas aos aspectos econômicos citados acima, aponta Birdwell. Segundo ele, os 14 grupos analisados, entre eles o Bloc Identitaire (França), CasaPound (Itália) e English Defence League (Reino Unido), vão além da insatisfação com o sistema capitalista moderno e acrescentam ao seu discurso ideias xenófobas, típicas da direita conservadora. Algo que pôde ser captado na pesquisa, pois os entrevistados mostraram-se contra imigração, o Islã e o multiculturalismo, por avaliarem que sua identidade nacional estaria ameaçada. “Mesmo assim é significante o fato de assistirmos ao surgimento de movimentos populistas em ambos os lados.”

De acordo com a pesquisa, os grupos populistas mapeados são compostos majoritariamente por homens (75%) e jovens (63% têm menos de 30 anos), que utilizam mídias sociais online de forma massiva, somando mais de 430 mil seguidores no Facebook. Uma ferramenta de publicidade ideológica que auxilia esses movimentos a levarem 26% de seus “participantes virtuais” às ruas em protestos e demonstrações. “É muito fácil clicar no botão ‘Curtir’ na página da English Defense League, mas esse resultado é bem mais elevado que a média de cidadãos europeus de 10%”, diz. “Essas pessoas estão usando a internet e ferramentas online como uma ponte para estimular de fato outros a se envolverem no ativismo do mundo real.”

Na migração do universo digital para a realidade, a maioria dos entrevistados se disse contrária ao uso da violência a fim de alcançar seus objetivos. Por outro lado, 26% concordaram com atitudes “mais firmes” para atingir as metas almejadas. “Os apoiadores destes grupos tendem a ser muito impacientes, impulsivos, energéticos e querem partir para a ação, mas não creio que vão se voltar exclusivamente para o uso da violência.”

O pesquisador reconhece, porém, o potencial negativo da retórica dos movimentos populistas, aos quais atribui a capacidade de criar “lobos solitários” como Anders Breivik, responsável por um duplo atentado na Noruega, em protesto à invasão islâmica na Europa, que deixou 77 mortos. “Alguns grupos combinam um sentido de urgência ao colocar em jogo a cultura nacional e a identidade dos indivíduos. Usam dados demográficos para dizer que em 50 anos, os imigrantes muçulmanos no continente serão maioria e os europeus étnicos minoria em seu próprio país.”

No cenário atual de avanço do populismo, Birdwell afirma ainda não ser possível prever o impacto desta ideologia nas novas gerações de cidadãos europeus, mas mostra-se preocupado com o perfil jovem dos integrantes destes grupos. A pesquisa, no entanto, já reflete um aspecto contraditório na população mais jovem, na faixa de 16 a 20 anos. Cerca de 20% deles citaram a imigração como motivo para apoiar movimentos direitistas, contra apenas 10% dos indivíduos acima de 50 anos.

Apesar de os jovens serem vistos como mais liberais que as gerações anteriores, o pesquisador destaca a preocupação do setor com os rumos da economia da Europa e da Zona do Euro. “Caso a situação siga por um caminho ruim, devemos nos preocupar, pois o apoio a movimentos anti-imigração e xenófobos vai continuar a aumentar, como é historicamente comum nestes períodos.”

Desiludidos sobre o futuro de seus países e críticos à União Europeia, apontada como a responsável pela perda de controle nas fronteiras, 70% deles não confiam mais no sistema de Justiça. Contudo, mesmo sem crer também na política, consideram o voto importante. Por outro lado, 67% votaram na última eleição em partidos populistas, que alcançaram relativo espaço na Europa. “É importante medir o impacto destes grupos na política não pelo tamanho que ocupam e sim pela capacidade de influenciar a elite política com seus discursos”, diz.

Segundo Birdwell, Nicolas Sarkozy, Ângela Merkel e David Cameron já adotaram o antimulticulturalismo, uma ação que reflete a retórica populista. “Conforme os políticos de destaque começam a adotar essas retóricas, vê-se o impacto que esses grupos podem ter.”


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