Do Tijolaço, aqui e aqui
Ainda não se pode dizer quais são as causas do acidente que provocou o
vazamento de, ao que parece, uma pequena quantidade de petróleo no
campo de Frade, operado pela petroleira norteamericana Chevron, a 350 km
do litoral fluminense.
Mas algumas coisa já se pode dizer, sim.
A primeira é que a empresa demorou pelo menos 24 horas a admitir o
problema e, quando o fez, foi por uma nota marota, dizendo que se tinha
detectado o vazamento “entre o campo de Frade e o de Roncador – que é
operado pela Petrobras - quando, na verdade, ele se deu bem próximo de
uma de suas plataformas de perfuração, a Sedco706, da Transocean, a
mesma proprietária da Deepwater Horizon, que provocou o acidente no Golfo do México, segundo informações do Valor Econômico.
A segunda é que esta história de falha geológica é algo que precisa
ser muito bem apurado, pois não é provável que falhas geológicas capazes
de provocar um derramamento no mar – e que, portanto, não podem ser em
grande profundidade na rocha do subsolo, porque haveria, neste caso, um
provável tamponamento natural – possam deixar de ser percebidas nos
detalhados estudos sísmicos que precedem a perfuração.
A terceira, e mais importante, é que não houve um tratamento
escandaloso do assunto pela mídia, como certamente haveria se o campo em
questão fosse operado pela Petrobras. A estaaltura, até os peixes do
oceano estariam dando declarações contra e empresa. Aliás, mesmo com o
vazamento da Chevron, o destaque nos jornais é para a queda de 26% no
lucro da Petrobras, mesmo sabendo que essa queda é essencialmente
contábil , pela desvalorização cambial ocorrida desde agosto e que não
se repetirá no último trimestre, dando à empresa um lucro recorde em sua
história.
Por isso, foi extremamente acertada a posição da presidenta Dilma
Rousseff de determinar a investigação rigorosa do caso. O petróleo de
nosso litoral pode ser explorado sem danos ao meio ambiente e deve
se-lo, qualquer que seja a empresa a fazê-lo.
E a imprensa, tão zelosa e meticulosa quando se trata da nossa
Petrobras, certamente não está dando pouca importância ao caso por se
tratar da Chevron, uma multi com boas reações de diálogo com o senhor
José Serra, como revelou o Wikileaks.
É importante que se apure, porque um acidente no leito oceânico é
imensamente mais grave que um provocado por um desengate de mangueira ou
rompimento de duto. Estes, assim que se fecham as válvulas, cessa,
mesmo que tenha sido grande. Um vazamento no leito oceânico, no poço ou
na estrutura geológica que o rodeia é mais sério, pois exige, como se
viu no Golfo, complicadíssimos e demorados procedimentos de vedação para
ser detido.
Por sorte, parece ter sido de pouca monta. Mas a sorte é um elemento com que não se pode contar neste tipo de atividade.
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O que está acontecendo no vazamento de óleo junto ao poço da Chevron,
no Campo de Frade, ao largo do Rio de Janeiro tornou-se, como ontem
determinou a presidenta Dilma Rousseff, um caso de investigação e de
duras providências.
Ontem, a gente já destacava que a história tem muitos pontos estranhos.
O Campo de Frade, um dos mais produtivos do Brasil, foi descoberto
pela Petrobras em 1986, ams só declarado comercial pela ANP em 1998, um
ano antes de seu controle ser transferido, numa operação conhecida como
“farm-in” , para a Chevron.
Lá, o petróleo ocorre em profundidades de cerca de 3 mil metros e,
mesmo estes, tiveram de ser desviados, durante suas perfurações, e o
estudo de impacto ambiental previaque todos eles seriam revestidos
durante a perfuração, para evitar a penetração do óleo nas falhas
geológicas.
Elas estão registradas aqu, no relatório apresentado pela Chevron ao Ibama: “o poço 3-TXCO (Texaco-Chevron)-3D foi perfurado contíguo com o 4-TXCO-2D. Devido às dificuldades técnicas e à proximidade da falha, foram perfurados 3 desvios(sidetracks) neste poço “.
Porque a Chevron, com um horizonte de perfuração bem-sucedido a 3 mil
metros contratou uma sonda com capacidade de perfurar até 7.600 metros
de profundidade, alugando por US$ 315 mil dólares dia. Muito abaixo do
preço das modernas sondas.
O Wall Street Journal descreve, em 2008,
a plataforma Sedco 706, que opera na área do acidente em Frade e tem
hoje 35 anos de idade, como um equipamento que “não era adequado para
modernas perfurações em águas profundas. Não era mesmo a ser utilizado
para perfurar mais. Ela estava atracado no Mar do Norte, ligada a outro
equipamento por uma passarela. Foi um quarto de dormir flutuante para os
trabalhadores do petróleo, uma espécie de motel marinho”.
Até agora não temos informações básicas, sobre a profundidade em que
se fazia a perfuração e sobre o que está sendo feito para deter o
vazamento.
Ou a empresa estava fazendo uma prospecção na camada do pré-sal e
aconteceu a infiltração no solo dos reservatórios superiores do pós-sal
ali presentes?
So o que se sabe é que a Chevrom depois de ter minimizado o episódio – e dizer que ele seria um fenômeno natural - a quantidade de admitida pela empresa agora chega a 100 mil litros de óleo
- ou 104 metros cúbicos – o que já não é nenhuma “gotinha”, sobretudo
se considerarmos que, vindo o vazamento do solo ocêanico , a mais de um
quilômetro de profundidade, o derramamento vai exigir dias para ser
detido.
A história está mal-contadíssima e não parece haver sinais de que teremos aqui empenho da imprensa em esclarecer.
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